sábado, 18 de setembro de 2010

Entrevista com o McKee por Thiago Dottori

Faço questão de indicar aqui esta maravilhosa entrevista.
Quero chamar a atenção para um aspecto, muito sabiamente, apontado pelo McKee. - Eu realmente fico impressionado com a agudeza de sua inteligência e da sua percepção. - O que quero apontar é a questão da crítica do "excesso" de semiótica e de linguística no ensino da escrita de roteiros. Mais uma vez, o McKee matou a pau.


Parte um: http://autoresdecinema.zip.net/arch2010-08-08_2010-08-14.html


Parte dois: http://autoresdecinema.zip.net/arch2010-08-15_2010-08-21.html


Parte três: http://autoresdecinema.zip.net/arch2010-08-22_2010-08-28.html


Trechos que me chamaram muito a atenção:


"Eu acabei de ter uma discussão, e os professores pensam que o método certo de educar é através da semiologia; então pensam que é sobre linguagem. E eu pergunto: linguagem pra expressar o quê? (nota: ele fica irritado nesse momento). Pra expressar o quê? Então todos esses anos eu direcionei minhas aulas, de alguma maneira, como uma reação à semiologia. Porque eu sei que é falso! É errado! É muito interessante para a crítica, mas inútil para o escritor. E ensinar escritores a pensarem nesses termos é realmente destruidor. Muito destruidor. E toda uma geração cresceu dentro das universidade escutando e aprendendo que é tudo uma questão de linguagem; imagens e filmes como parte da semiologia."


"As pessoas falam sobre isso, escrevem livros como “A gramática da realização de filmes” (Grammar of filmmaking). E isso é completamente nonsense. As relações dentro de uma história não são gramáticas, são causais, temporais e espaciais. É pré-linguístico. É muito mais profundo. Linguagem é um meio. Como a dança. É um meio de expressar algo. Mas expressar o quê? Linguagem é apenas um meio, mas eles substituíram linguagem por conteúdo (substance). O estilo da expressão não é o conteúdo da expressão, mas eles tratam como se fosse. E, como resultado, as pessoas estão trocando os pés pelas mãos. Então eu tenho trabalhado muito duro pra dar aulas e dizer que não é sobre isso. É Estória. É sobre personagem, sobre desejo, sobre forças do antagonismo..."




Retomar os princípios...


"Sim, voltar aos primeiros princípios; estória é translinguística, é pré-linguagem. É primitivo. É profundo."




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Outra parte interessante:


"A gente simplesmente não pode lidar com isso, com fatos sem causa! É estressante. Então a gente inventa causas!"

"Pra mim, semiologia e linguística são um fato procurando por uma causa. E linguagem não é um fato. Então eles criam causas que não existem. Por que? Eu não sei. É uma coisa francesa. O aspecto mais importante da cultura francesa é a sua língua, seu idioma. Os franceses acreditam que o francês é a língua mais bonita. Na verdade, o francês é uma língua muito pobre. O vocabulário francês é 25% do inglês. Escutar é uma delícia. É adorável ouvir falar francês. Lindo. Mas qualquer língua bem falada é belíssima de ouvir. Eu me lembro anos atrás, vendo um programa de televisão, eu fiquei curioso em saber qual era a língua em que era falado. Tão lindo de ouvir, tão belo, poético. “Que língua era aquela?”. Então descobri que era espanhol castelhano. E era muito elegante! Estava numa praia uma vez, na Suíça, e ouvi uma mulher falando e eu não reconheci a língua, que era muito bonita, então eu perguntei a ela que idioma era aquele e ela disse “alemão”. Alemão bem falado. Lindo. Então qualquer língua bem falada é bonita, mas os franceses tem essa obsessão com a sua língua. E então eles inventaram toda uma teoria de que “realidade é linguagem”. Fascinante, mas eu sabia que seria destrutiva para escritores. E parte do que eu faço e do que eu tenho feito é uma reação a isso. E essa foi uma explicação bem grande." 


Um comentário:

luís venegas soler disse...

ótima!!! e a cobra continua viva...