domingo, 28 de fevereiro de 2010

A Serious Man (2009)



MARSHAK'S SECRETARY 
The rabbi is busy.


LARRY GOPNIK 
He didn't look busy!


MARSHAK'S SECRETARY
He's thinking. 



Direção: Ethan Coen e Joel Coen

Cast: Larry Gopnik (Michael Stuhlbarg); Tio Arthur (Richard Kind); Judith Gopnik (Sari Lennick), Sy Abelman (Fred Melamed), Rabino Nachtner (George Wyner) entre outros.


No meu modo de ver, o que os irmãos Coen mais gostam de fazer, é tentar subverter a dramaturgia clássica, testá-la, levá-la a seus limites.
Isto algumas vezes parece até dar certo, como, por exemplo, no caso do acidente de carro, quando Sy Abelman (Fred Melamed) morre. A montagem paralela que nos mostra Gopnik (Michael Stuhlbarg) dirigindo e se distraindo e perdendo totalmente a concentração ao volante quando vê Clive (o aluno que tentou suborná-lo para ser aprovado), isso se dá ao mesmo tempo em que Sy Abelman tenta cruzar uma rua muito movimentada. Tudo nos leva a crer, que em função dos problemas que Gopnik tem com Abelman e da situação apresentada pela montagem, que Gopnik irá causar o acidente que mata seu, de certo modo, antagonista. Mas isto não acontece, o que acontece é uma coincidência ainda pior. Sy Abelman morre em um acidente no mesmo momento em que Gopnik se distrai e também sofre um acidente.
Bem, todo roteirista iniciante encontra-se com uma regrinha básica, conforme a história progride, deve-se evitar progressivamente coincidências dentro da narrativa. No começo, quando o universo ficcional começa a ser construído as coincidências são mais aceitáveis, fazem parte do jogo, a partir de então, conforme a história progride, elas vão ficando cada vez menos críveis e aceitáveis.
Porém, assim que a fatalidade acontece, o próprio Gopnik procura o rabino Nachtner (George Wyner) e este através de um caso fantástico, diz que há coisas que não são explicáveis e não adianta tentar entender o que não tem explicação. Assim os Coen apresentam as regras do jogo já num estágio avançado da história e o espectador compra o fato. Eles fazem uma coincidência acontecer num estágio avançado da narrativa, mas logo em seguida dão uma explicação lógica (por mais ilógica que esta seja e, embora, de certo modo, isto já seja dado no episódio que antecede a história).
Mais duas coisas chamam a atenção a respeito do filme. Uma delas é a respeito do filme ser uma comédia, e neste sentido eu vejo um fracasso do filme. Vejamos que Aristóteles nos diz no começo do capítulo cinco da Poética acerca da comédia:

"A comédia, como dissemos, é imitação de pessoas inferiores; não porém, com relação a todo vício, mas sim por ser cômico uma espécie do feio. A comicidade, com efeito, é um defeito e uma feiúra sem dor nem destruição; um exemplo óbvio é a máscara cômica, feia e contorcida, mas sem expressão de dor."


 


A dificuldade de rirmos do sofrimento de Gopnik talvez demonstre apenas que o limite entre o cômico e a crueldade não é tão tênue como aparenta. É claro que, como já disse, os Coen sempre estão querendo questionar a dramaturgia clássica e experimentarem novos procedimentos, isto pode até ser bom, mas tenho certeza que não é fácil.

Por fim, e aproveitando que o Aristóteles já fora chamado, vamos a um aspecto que garante a qualidade do filme, a despeito de eu achar que ele fracassa enquanto comédia.

Um pouquinho antes de começar o capítulo cinco da Poética, Aristóteles escreve:

"Prova disso é o que acontece na realidade: das coisas cuja visão é penosa temos prazer em contemplar a imagem quanto mais perfeita; por exemplo, as formas dos bichos mais desprezíveis e dos cadáveres"

 
O naturalismo do filme chama atenção e este diz respeito à minuciosa imitação da vida e das contingências relativas à vida do homem moderno; problemas familiares, falta de estabilidade no trabalho, a falta de referências morais e religiosas e a dificuldade destes discursos darem conta da realidade social contemporânea, tudo isso sem soar excessivamente sociológico.

Os Coen são sim grandes cineastas, porém, creio que quando querem fazer certinho, eles fazem muito bem feito, porém, quando tentam fazer uma coisa (levar a comédia aos seus extremos), acabam fazendo outra (um filme excessivamente naturalista).





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Ao som de Jefferson Airplane, The Farm.

District 9 (2009)


WIKUS VAN DE MERWE
I would never have any kind of... 
pornographic activity with 
a fookin' creature!

Direção: Neill Blomkamp


Cast:  Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley)


A princípio, fiquei meio receoso com este filme, pensei; "lá vem aquelas críticas sociais chatas, que adoram fazer com que você se sinta culpado por metade dos problemas do mundo". Mas não, o filme é bem balanceando, com bons momentos cômicos, boas referências cinematográficas (como não lembrar do clássico The Fly do David Cronenberg quando Wikus começa perder as unhas?!)

Aventura, drama, ação e humor, bem dosados, sem cinismo e sem deixar de lado a provocação para pensarmos as diferenças, acho que o formato documentário para um enredo de ficção científica foi realmente uma grande e original sacada.

A única coisa meio fraca é o desfecho, sobretudo a modinha destas lutas de robocops no final do filme, coisa que o Cameron gosta muito, diga-se de passagem.



Também vale à pena visitar o site oficial, e ver o curta feito antes do filme.



Avatar (2009)

 

DR. GRACE AUGUSTINE
Or what, Ranger Rick? Huh, you gonna shoot me?

COL. QUARITCH
I could do that.


Direção - James Cameron

Roteiro - James Cameron

Cast - Jake Sully (Sam Worthington), Neytiri (Zoe Saldana), Dr. Grace Augustine (Sigourney Weaver), Col. Miles Quaritch (Stephen Lang).

Para ser bem sincero, gostei do 3D, não tinha visto nenhum filme com esta tecnologia antes, acho que o potencial desta tecnologia é realmente revolucionário. No entanto, mesmo no que diz respeito aos aspectos técnicos criativos, Avatar me surpreendeu... negativamente. O filme é realmente um  marco, um apelo para se pensar o cinema e suas possibilidades, sobretudo dramatúrgicas. Um convite para se pensar o seu público, uma provocação para se pensar sobre nossa sociedade. Obviamente, não nos termos dos infinitos clichês no filme. Para falar a verdade, creio que James Cameron seja um provocador, bem mais sutil do que qualquer coisa que Godard tenha feito. Afinal Avatar é um filme para crianças com censura de 12 anos, e a maior bilheteria da história do cinema.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Escritos e Ditos

 
"Stories are the oxygen of civilization and the elixir of sanity and wisdom"

"As histórias são o oxigênio da civilização e o elixir da sanidade e da sabedoria"

Michael Rabiger
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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A onda agora é o Lip Dub

O Lip Dub é um novo gênero de vídeo que está bombando na net. Os vídeos têm uma música tema que é acompanhada com movimentos coreografados e simulação de canto sincronizados. São vídeos feitos com, e por, alunos de várias universidades e escolas no mundo inteiro em um único plano sequência. Basicamente é isto, é claro que alguns estudiosos conseguiram fazer uma análise bem mais complexa do novo gênero, para quem se interessar, vejam o texto no blog do David Bordwell aqui(em inglês).


Aqui estão dois dos que eu achei mais legais. Um da Universidade do Québec e outro da Shorewood High School.

Lip Dub Universidade do Québec


Lip Dub Shorewood High School

Agora fica a pergunta, qual serão os primeiros a realizar um Lip Dub brasileiro? Seja lá qual for, me convidem, tô dentro!

A propósito, no wikipédia tem mais informações a respeito.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

In the Loop (2009)



Michael Rodgers 
'PWIP-PIP'? Quem escreveu isto,
Charles Dickens? 

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Linton Barwick
'PWIP-PIP'? What is that,
a report on bird-song? 



Direção: Armando Iannucci
Cast: Macolm Tucker (Peter Capaldi), Simon Foster (Tom Hollander), Judy Molloy  (Gina McKee)

Mais um dos concorrentes ao oscar de roteiro adaptado. Uma excelente comédia política enfocando alguns figurões de alto escalão do pentágono e do governo inglês em um delicado processo de formação de alianças para uma guerra ao mesmo tempo "imprevisível" e 'previsível". Destaque aos diálogos e ao excelente personagem de Peter "Fucking" Capaldi.




A Arca Russa (2002)

 
 
NARRADOR
Que tipo de peça é esta?
         Espero que não seja uma tragédia.


Cast: O Estranho - Marquês de Custine - (Sergei Dontsov), katarina, A Grande (Mariya Kuznetsova), Narrador (V.O)(Aleksandr Sokurov).


A maior bobagem dita sobre este filme é que se trata de um filme sem montagem, sem corte e edição sim, mas sem montagem, ai não dá. O cara fez a síntese entre o Tarkóvski e o Eisenstein. Bem de qualquer maneira adoraria ver seu roteiro.
Aproveite e veja o trailer de um filme sem cortes.



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Filmes recentes de Hollywood seguem molde matemático, diz cientista

EWEN CALLAWAY 
da New Scientist
 
A Era de Ouro em Hollywood pode ter acabado na década de 1950, mas foi apenas recentemente que a cidade dos sonhos demonstra ter um método matemático para capitalizar a medida de nossa inconstante atenção.

"Produtores de filmes têm evoluído, de forma cada vez melhor, na extensão de cenas e sequências, que arrebatem a nossa atenção", diz James Cutting, psicólogo da Universidade Cornell, em Ítaca, Nova York. 

Ele analisou 150 filmes de Hollywood e descobriu que os mais recentes eram mais voltados a períodos determinados das cenas, e tinham a tendência de seguir um modelo matemático que também descreve a medida extensão da atenção humana.




Fórmula
 
Nos anos 1990, um grupo da Universidade do Texas mediu a extensão da atenção de voluntários, a partir de como eles se portavam diante de centenas de testes consecutivos
Quando eles cruzaram essas medições com uma série de ondas usando um truque matemático chamado Transformações de Fourier, as ondas aumentavam em magnitude, à medida que as frequências caíam. 

Esta propriedade é conhecida como flutuação 1/f, ou "barulho rosa", e neste caso significava que o poder de atenção diante de um teste com uma extensão particular foram recorrentes em intervalos regulares. 

O pioneiro da teoria do caos, Benoit Mandelbrot, encontrou níveis anuais de enchentes do rio Nilo que seguiam esse padrão; outros observaram-no na música e em turbulências na atmosfera.

Para encontrar se a extensão de uma cena cinematográfica poderia seguir a 1/f também, Cutting mediu a duração de cada sequência em 150 sucessos de Hollywood, de vários gêneros, lançados entre 1935 e 2005. Ele, então, dispôs esses dados em uma série de ondas para cada filme. 

Cutting descobriu que os filmes mais recentes eram mais propensos a obedecer a lei 1/f do que seus antecessores. 

Mas ele afirma que não são apenas filmes de ação com sequências rápidas, como "Duro de Matar 2", que seguem a 1/f. Ao contrário, o importante é que haja sequências de tamanhos semelhantes, que se repitam em um padrão regular dentro do filme. 

O cientista sugere que a obediência à 1/f pode fazer dos filmes mais atrativos porque eles repercutem com o ritmo de extensão da atenção humana --mas ele duvida que diretores estão usando a matemática, deliberadamente, para fazer filmes. 

Em vez disso, ele acha que filmes que sejam editados dessa forma provavelmente sejam mais bem-sucedidos, algo que, por sua vez, incentivaria outros a seguir este estilo. Isso explicaria por que um grande número de filmes recentes tendem a seguir a 1/f. 

No entanto, ele descreve como "simplesmente terrível" o filme "Star Wars 3", cujo enredo segue rigidamente a 1/f. Cutting afirma que uma boa narrativa e forte atuação são provavelmente mais importantes do que a fórmula matemática.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u695704.shtml

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Tela Brasil - Oficinas Virtuais

Eu não poderia deixar de comentar uma novidade na internet. É a oficina de roteiro virtual no Tela Brasil. Bem bacana mesmo, até eu fiz um argumento 'virtual' rápido por lá, vale a pena darem uma olhada e exercitarem a imaginação. É bem rápido e fácil de usar.

Tem oficina de roteiro, de direção, de fotografia, de produção, direção de arte, de som e trilha sonora.
Agora, quem quer dar os passos iniciais na carreira de cineasta não pode mais ficar reclamando que não tem oportunidade. Clique aqui e mão na massa!

Juno (2007)

 

VANESSA LORING  (To Mark)
Grow up. If I have to wait for you to 
become Kurt Cobain, I'm never 
gonna be a mother.



Direção -  Jason Reitman

Roteiro - Diablo Cody

Cast -  Juno ( Ellen Page ), Paulie Bleeker ( Michael Cera ) Vanessa Loring ( Jennifer Garner ), Mark Loring ( Jason Bateman )

Eu não tinha visto este filme ainda, não foi descuido ou descaso, eu simplesmente estava assistindo muitos filmes clássicos, da Época de Ouro de Hollywwod, década de trinta a cinquenta. Queria muito ver Juno, mas nunca tive uma oportunidade. Então, logo depois de ver Up in the Air, encontrei um amigo como DVD de Juno embaixo do braço, é claro que ele foi bastante solidário e me emprestou.

Filme bacana, muito bonito e bem escrito. Acho que duas coisas merecem destaque, uma cena, e um nome.

A cena, é a da amiga japonesa, Su - Chin (Valerie Tian) que encontra Juno na porta de uma clínica de aborto da Women Now. Su - Chin faz uma manifestação, uma manifestação solitária contra o aborto. As duas se falam e Juno se constrange, cria coragem para entrar na clínica e Su-Chin lhe diz que seu bebê já tem unhas. 

Se fosse um roteirista menos talentoso ele colocaria um monte de pessoas, etc. Mas não, uma única garota solitária fazendo um protesto, não tem como não se simpatizar com a garota.  A simpatia com Su-Chin irá aumentar logo na sequência, quando a balconista da clínica atender Juno. Porém, infelizmente, a balconista e a clínica não são construídas com a mesma sutileza. Depois de ser atendida pela recepcionista, o que acabou de ser dito por Su-Chin lá fora ganha potência quando Juno, ao sentar-se na sala de espera, vê pessoas roendo unhas, pintando unhas, cortando unhas. afinal ela está numa situação tensa. Assim, automaticamente ela pensa no feto, ele está para ser abortado, ela pensa (ou achamos que ela pensa) "Será que ele, como tem unhas, estaria roendo suas pequeninas unhas?" juno automaticamente deixa a clínica.

Outro elemento, (inclusive eu havia pensado nisto para um personagem meu, e agora descarto de vez a idéia), é o nome McGuff. Ao ver o sobrenome de Juno, não pude deixar de associá-lo ao MacGuffin. 

McGuffin foi um termo usado por Hitchcock para definir um elemento da trama que aparentemente é o mais importante, por exemplo, o falcão em "O Falcão Maltês" de John Huston (baseado no livro de Dashiell Hammett). Porém, o artefato tão procurado pelos personagens é apenas algo que guia a história, dá um sentido, uma direção. O que realmente importa é aquilo que os personagens conquistam em sua busca, o seu aprendizado, a superação de seus defeitos ou que os levam a encontrarem o amor.

Vejamos nas palavras do próprio Hitchcock em sua clássica entrevista a François Truffaut:

"É um nome escocês, tirado de uma história sobre dois homens em um trem. Um homem diz: "Qual é o pacote lá em cima no suporte de bagagens?" E o outro responde: "Oh, isso é um McGuffin". Logo o outro pergunta: "O que é um McGuffin?" "Bem", o outro homem diz: "É um aparelho para capturar leões nas montanhas escocesas. O primeiro homem diz: "Mas não há leões nas maontanhas escocesas," uma outra  resposta: "Bem, então isso não é McGuffin!" Então você vê, um McGuffin é nada."

Mas vejam bem, embora o MacGuffin seja algo que não existe é ele que estabelece a conversa entre os dois homens. Surge com um elemento de ligação, uma espécie de função fática.

No caso do roteiro de Juno, tenho a impressão de que Diablo Cody humanizou seu MacGuffin. 

Se eu dissesse que a história de Juno McGuff é secundária diria uma grande besteira, na verdade, a gravidez é o desencadeador da história e nos leva a história de Mark e Vanessa. O filho de Juno é um MacGuffinzinho. Algo casual  como uma gravidez indesejada, mas que ganha muito mais importância a partir do momento que percebemos que o problema  é a incapacidade de lidarmos com o seu verdadeiro significado. O MacGuffin não é algo banal, nem ao menos problemático. A incapacidade de 'trabalhar' o MacGuffin, de cuidar do MacGuffin, seja ele aspectos da dramaturgia, ou seja uma criança, sim. Este é o verdadeiro desafio.







The Messenger (2009)

 


CAPITÃO TONY STONE
Não toque nos "Notificados!"




Direção - Oren Moverman 


Cast - Sergeant Will Montgomery (Ben Foster), Kelly (Jena Malone), Captain Tony Stone (Woody Harrelson), Olivia Pitterson (Samantha Morton), Dale Martin (Steve Buscemi).


No que diz respeito ao oscar deste ano, achei muito interessante o fato de dois concorrentes ao oscar terem personagens, de certo modo, muito parecidos. 

Neste filme, o Sgt Will Montgomery, após se recuperar de um combate no Iraque - combate no qual desempenhou uma ação heróica e trágica - é designado para a função de mensageiro. Nesta ele deve notificar os parentes de soldados tombados em combate sobre a morte dos mesmos. Em tal função, será subordinado ao Capitão Tony Stone. Ambos percorrem cidades dos EUA levando exercendo sua terrível função. O pior é que a mesma deve ser exercidar de forma impessoal e frio, o que é dilacerador. Nenhum abraço, nenhum aperto de mão é permitido, apenas uma mensagem seca  e burocrática para confortar aqueles que deixaram seus amados irem defender  os interesses da América.

O pesadelo de Montgomery é que quando ele partiu para o Iraque sua namorada logo arranjou outro. Assim, todas as vezes que ele vê o sofrimento de alguém que perdeu uma pessoa amada na guerra, ele é obrigado a confrontar sua própria tristeza, o fato de ter sobrevivido, enquanto aparentemente, sua amada pouco se importaria que ele tivesse morrido.

Como já dito em postagem anterior, o filme Up in the Air trata de um personagem que tem também de levar a triste notícia a milhares de pessoas demitidas depois de dedicarem uma parte considerável de suas vidas ao seu  trabalho e que agora simplesmente não mais existem. Tal tarefa só pode ser feita com o mínimo de dignidade, apenas por alguém que tenha em sua própria existência, suportado viver sem vínculos.


 

A Serious Man (2009)

 


RABBI MARSHAK
When the truth is found. To be lies.



Direção: Ethan Coen e Joel Coen

Atores: Larry Gopnik  (Michael Stuhlbarg); Tio Arthur (Richard Kind); Judith Gopnik (Sari Lennick), entre outros.




Up in the Air (2009)




RYAN BINGHAN
Anybody who ever built an empire, 
or changed the world, sat where 
you are now. And it's *because* 
they sat there that they were 
able to do it.



Direção - Jason Reitman

Roteiro - Jason Reitman e Sheldon Turner da novela de Walter Kirn

Atores - Ryan Bingham (George Clooneye  Alex Goran (Vera Farmiga)


Belo filme, destaque para a introdução a versão de Sharon Jones e Dap Kings para a canção This Land is Your Land

O roteiro realmente é muito bom, o grande destaque é para o personagem central: Ryan Bingham. Este interpretado pelo Clooney (que acho um dos favoritos para o prêmio). Ryan Bingham é um agente de demissões, um homem cujo trabalho é demitir as pessoas. Um trabalho vil, não? Sim, e justamente por isso é um trabalho que precisa ser feito com muita humanidade.

Mas não é apenas isso. No fundo, Ryan é um homem desenraizado, cuja principal vocação (ou maldição) é  romper vínculos e desestabilizar relações. Sua profissão apenas expressa esta triste vocação e toda sua solidão.


Vejam o Trailer

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

The Hurt Locker (2009)

 


JAMES
This box is full of stuff that almost kill me
(Esta caixa está cheia de coisas que quase me mataram)



Direção: Kathryn Bigelow

Roteiro: Mark Boal (para baixar o roteiro, clique aqui!

Atores: Jeremy Renner (SFC William James), Anthony Mackie (Sgt J.T. Sanborn), Brian Geraghty (SPC Owen Eldridge), Guy Pearce (SSG Matt Thompson), Ralph Fiennes (Contractor Team Leader).

Bem, por enquanto não vou dizer nada sobre a premiação do Oscar, se eu falasse qualquer coisa seria pura especulação. O que posso dizer é que este é um grande filme. Bons diálogos, ritmo bem marcado, densidade psicológica sem clichêsismos e com problematizações bem contemporâneas. Cenas memoráveis e uma excelente estrutura. Certamente o filme tem grandes méritos e a Academia fez justiça na escolha. Uma curiosidade sobre o filme é que a diretora é ex-esposa de James Cameron, e este, depois de ler o roteiro, aconselhou-a enfaticamente a aceitar o projeto.

Bem, quanto ao roteiro, acho que alguns detalhes merecem atenção, sobretudo a estrutura. Porém, recomendo: não continue a leitura se você não viu o filme. Insisto, vá assistí-lo! Depois volte aqui e retome de onde parou! Eu não vou apagar a postagem.
Aqui segue o trailer para incentivar!



Se você já viu, vamos lá.

Vejam bem, a cena inicial é muito boa. O robô é enviado para  desarmar a bomba, mas, por mais avançada que seja sua tecnologia, ele é um trambolho, incapaz de realizar operações simples como retirar uma lona e puxar uma carrocinha com explosivos. Por mais brutal que a guerra seja, ela é essencialmente humana e são os homens que devem fazê-la. Acho que a citação no começo do filme vai justamente neste sentido. O que deve ser notado é a redundância deste tipo de elementos no filme. Estamos na primeira cena, a epígrafe diz que a guerra é uma droga e vicia, na sequência, um artefato que deveria substituir o homem na guerra, falha, e um homem deve automaticamente fazer o serviço, a despeito de sua própria segurança. Isto irá retornar várias vezes e preencherá quase todo o filme.

James, em sua primeira missão irá simplesmente desconsiderar a hipótese de usar o robô e sem pensar muito irá, de modo suicida, partir para desarmar várias bombas. Em outra missão ele retira a roupa protetora e diz  "Se eu for morrer, que eu morra confortavelemente!" (Roupa protetora que já sabemos em função da cena inicial, ter capacidade de proteção limitada, ela proteje dos estilhaços, mas parece não poder fazer nada sobre a concussão).

Ainda sobre James e "a relação do homem e as coisas", vejam sua fala com seu próprio filho, "Talvez, ao ficar mais velho ... algumas das coisas que você ama podem não parecer mais tão especiais. Como o seu Jack da caixa. Talvez você perceba que é apenas um pedaço de lata e um bicho de pelúcia" (As you get older... some of the things you love might not seem so special anymore. Like your Jack-in-a-Box. Maybe you'll realize it's just a piece of tin and a stuffed animal).

Posso ter forçado um pouco, mas lembrem-se, eles desarmam bombas, artefatos, objetos engenhosos, os quais James coleciona em sua caixa embaixo da cama, capazes de matar. O próprio nome do filme, segundo andei tentando descobrir na internet,- mas ainda não encontrei nada satisfatório - diz que Hurt Locker é um termo muito específico entre soldados especialistas em desarmar bombas e quer dizer algo tipo, caixa de dor, de sofrimento e deve referir-se às bombas ou aquele traje insanamente desconfortável.

Merece atenção também a trajetória de Owen, o personagem que falha no início do filme ao não atirar no homem que usa o celular e ao apertar o botão aciona a bomba que mata Thompson, parceiro de Owen. Ele carrega a angustiante culpa desta morte e desacrrega sua tensão justamente jogando video-game, simulacro de realidade onde ele pode matar sem culpa, ação que não executou quando não matou. E por isto um  homem para quem ele dava COBERTURA morreu.

Na seuquência, em função desta culpa ele começa a ter acompanhamento de um psicólogo, a quem Eldridge desafia:

ELDRIDGE
E você sabe disso a partir de 
suaimensa experiência de campo?

CAMBRIDGE
Eu já cumpri meu dever no campo. 

ELDRIDGE
Onde era... Yale?

CAMBRIDGE
Olhe, se quiser parar de falar
comingo,você pode.Estas 
sessões são voluntárias.


Eldridge considera isto.

ELDRIDGE
Eu prezo o que você está dizendo.
Mas você precisaria ir para o campo,
fora das cercas. Ver o que nós fazemos. 

CAMBRIDGE
Se a circuntância pedir isto. Eu
irei. Como qualquer outro soldado.


Creio que todos imaginam o que vai acontecer na sequência. O psicólogo tentando ganhar a confiança do jovem soldado, vai a campo junto com o mesmo e numa cena muito bem escrita, morre. Morre depois de mostrar, num momento muito engraçado, sua total incapacidade para o campo de batalha.

Pensem nisto e revejam o filme, e não se esqueçam dos comentários, críticas e sugestões.



Agradecimento ao Roteiro de Cinema News por disponibilizar o roteiro.