domingo, 18 de julho de 2010

Invictus (2009)


                     ETIENNE
           Você sabe qual a diferença

           entre o rugby e o futebol? O 
           Futebol é um jogo de cavalheiros
           jogado por valentões. Já o rugby 
           é um jogo de valentões jogado 
           por cavalheiros.

Direção: Clint Eastwood


Elenco: Nelson Mandela (Morgan Freeman), François Pienaar (Matt Damon), entre outros.

Uma dos recursos mais difíceis de se utilizar em um roteiro é a surpresa. Hitchcock achava o suspense mais interessante que a surpresa, pois se você fica esperando algo acontecer, em suspensão, o roteirista e/ou diretor podem trabalhar esta tensão durante todo o filme. Para ele, a surpresa seria muito difícil e até mesmo não muito gratificante com o público, pois o roteirista e/ou diretor pode ficar por uma hora preparando a surpresa, mas quando esta acontece, seu efeito é pequeno, durando apenas alguns segundos.
Mas como tudo na vida, esta escolha entre suspense e surpresa é uma opção, e grandes roteiristas fazem suas opções de acordo com seus estilos.
Se você gosta da surpesa e acha que poderia utilizar mais este recurso, vamos a algumas ponderações.
Uma recomendação constante é para se evitar a falsa surpresa, aquela onde você induz o espectador e/ou leitor a acreditar em uma coisa, como o exemplo citado por McKee em Story, onde uma mulher caminha por um corredor de uma casa sombria numa noite tempestuosa e um homem espera atrás da última porta do corredor, mergulhado em sombras profundas, com um machado nas mãos. Quando a mulher atravessa a porta o homem acende a luz, baixa o machado e diz, alongando os braços: Olá querida... tudo bem? Eu estava cortando lenha e acabei de chegar.

Isso é horrível e covarde, o espectador se sente desrespeitado por ter te dado atenção, por ter baixado a guarda e confiar em você, e você lhe aplica um golpe baixo destes!?

Em Invictus há um momento interessante, onde a surpresa se destaca. É um trecho rápido que me surpreendeu, se você não viu o filme, pare por aqui, assista e depois volte.

Quando um dos jogos mais difíceis da seleção sul-africana de rugby vai acontecer em um estádio. Vemos nas cenas anteriores, e de modo bem sutil, um plano de menos de 20 segundos no qual um homem estranho à história faz uma análise do estádio. O contexto de tensão racial e política na África do Sul em função de Mandela ter assumido o poder é constantemente reforçado em cada cena do filme.

A primeira coisa que nos vem à cabeça é "estão planejando um ataque terrorista!". No dia do jogo, antes do mesmo começar e com milhares de medidas de segurança tomadas, vemos em um plano, o mesmo homem que estava analisando o estádio anteriormente pilotando um avião de passageiros. Ele começa a se aproximar do estádio, todos ficam assustados com aquela mudança de rota do avião, o atentado parece iminente. Mas eis que o avião faz um rasante sobre o estádio e em baixo do mesmo há uma mensagem desejando boa sorte à seleção sul africana.

Em minha opinião, a surpresa neste filme funciona por diversos motivos. Ela está totalmente inserida dentro da trama, que tem como uma dos seus focos o trabalho da segurança de Mandela.
(de maneira simplificada; a trama, também conhecida como Syuzhet é o modo como a fábula, a história, nos é contada, de qual ponto de vista, abordando quais questões como centrais.)

Em segundo, ela é rápida, não demora nem cinco minutos para que esta ação se desenvolva. Se a surpresa é rápida o espectador não investe emocionalmente muito tempo na construçaõ da surpresa e e se esta, por um motivo ou outro não funciona, ela não desgasta o espectador, pois não é o elemento mais importante do filme.

Em terceiro, ela é totalmente surpreendente, e isto é fundamental. Se, como no caso citado por McKee, do cara com o Machado, acontecer algo trivial, banal e frustrante, esqueça o público, e ai será bom você ter amigos influentes e muito ricos para bancarem o seu filme. No caso do Invictus, a surpresa faz juz ao termo surpresa, e você é surprendido com o avião fazendo aquele rasante.



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