segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tropa de Elite 2 - O inimigo Agora é Outro (2010)




                     Ten Cor Fábio
            Porra Rocha, quer me foder? Então 
            me beija!



Direção: José Padilha


Roteiro: Bráulio Mantovani e José Padilha, do argumento de Bráulio Mantovani, José Padilha e Rodrigo Pimentel


Elenco: Ten - Cor Nascimento (Wagner Moura), Beirada (Seu Jorge), Clara (Tainá Müller), André Matias (André Ramiro), Ten-Cor Fábio (Milhem Cortaz), Rocha (Sandro Rocha), Fraga (Irandhir Santos), entre outros.

Já faz umas semanas que eu vi o filme, e confesso, além de estar muito empenhado em dar conta de "The Sopranos" eu estava numa baita crise com o cinema, pensando em desistir disto, trabalhar com outra coisa, mas enfim, isto não vem ao caso. Fui para o cinema cético, sem vontade e sem empolgação, mas faço questão de dizer que isto nada tinha a ver com o filme Tropa de Elite 2 em si, era uma neura minha mesmo.


Quanto ao filme em si, o que eu posso dizer é que eu gostei muito mais do primeiro. Eu pensei que deveria julgar o T2 pelas suas qualidades internas, por si próprio, mas descobri que é impossível falar sobre ele sem a baliza do primeiro, eles estão irremediavelmente ligados e este é o grande problema das continuações.


Há diversos pontos que eu poderia citar que justificam minha opinião, mas vou me ater a apenas alguns deles. 


Não gosto do personagem do Capitão - agora Tenente Coronel -Nascimento. Acredito que no um ele era mais interessante, ele era meio bom, meio mal, como qualquer um de nós. No dois ele já é um personagem mono-dimensional, ele é do bem e se perde um pouco nos labirintos da política, o que ocasiona de certo modo a morte de Mathias. Afinal, se Nascimento tivesse feito algo pelo Mathias quando ele precisou o Mathias não teria entrado numa fria, e consequentemente, morrido. Além do mais, Nascimento é incapaz de perceber o óbvio (ou pelo menos aquilo que é óbvio para o público, o surgimento das milícias) sozinho! Então temos a mão salvadora (e forçada) do Fraga, querendo nos mostrar como seria importante se ambos tivessem dados as mãos e superado suas diferenças. 


O personagem do Fábio era bem mais interessante no primeiro, no segundo ele vira um papagaio que tenta encaixar algum bordão, mas na verdade, acho que o Tropa 2 não tem bons bordões. No entanto Fábio tem um grande momento; ele num barco, bebendo e curtindo com uma gata, e reclamando, é algo muito comum de se ver no Brasil.


A impressão que eu tive foi de um filme muito mais preocupado com a questão das milícias, em documentar a mecânica social de como ela surge em função do vácuo de poder deixado pelo fim da hegemonia do tráfico nas favelas, do que com o desenvolvimento do drama de Nascimento.


É justamente por isso que o então Ten-Cor Nascimento não se encaixa, Nascimento precisa, por intermédio de seu filho, que Fraga lhe diga o que está acontecendo. É por isso que  Mathias não se encaixa, morre e não faz falta, não senti a morte do Mathias e ainda, por isso que o Fábio se torna impotente em relação a Rocha, uma nulidade sem graça e reclamão, o grande trio do primeiro filme se torna quase coadjuvante.


Acho que o filme reflete o problema que já encontramos no livro. A primeira parte é um assombro, um relato brutal do dia a dia de um personagem num campo de guerra, tendo de matar crianças e tendo de atender a mãe de suas vítimas na sequência. A segunda parte é uma descrição dos labirintos do estado corrupto brasileiro.


Por fim, há um momento, para mim, extraordinário; a cena onde os políticos e os policiais corruptos celebram a aliança com a população das comunidades é extraordinária, e num momento que eu não sei se queria ser didático, demonstra os "atalhos" que o poder do estado se utiliza para fazer o que deveria ser feito de modo legal, é como se o estado desse uma volta em torno de si mesmo para fazer o que deveria ser feito. Afinal quem são os homens das milícias? São homens do estado, são políticos e policiais que dão proteção às comunidades de modo ilegal quando deveriam fazê-lo legalmente. 


Mas de qualquer modo, gostaria de enfatizar a importância do filme e sua feliz escolha do tema e do que ele representou em nossa indústria cinematográfica, lembrando que, também, isto só se tornou possível em função dos filmes que o precederam, como Cidade de Deus e o próprio Tropa 1.


5 comentários:

Vinícius disse...

No primeiro Tropa , a narração pelo capitão nascimento estabelece mt bem entre quem é o embat: o bope, batalhão de elite, incorruptível e temido; e o tráfico, com dois aliados: a polícia que o corrompe e os universitários que os sustentam.

Notavelmente, os personagem que centraliza o conflito está em todos estes círculos: Mathias é universitário, amigo dos maconheiros, membro da polícia corrupta (as cenas da estorsão do bar e do funcionamento da oficina de veículos são fantásticas) e durante o filme, torna-se um cara do BOPE. Se o filme fosse narrado por ele, seria a narração deste passar pro outro lado, que envolve o treinamento rígido do BOPE. Um paralelo cinematográfico se faz com "Nascido para Matar" em q o rígido treinamento vai transformar os jovens em soldados para a máquina de guerra americana no Vietnã.

De certa forma, a transformação e o sujeito que a rege, o capitão nascimento, seduz o público.

Vinícius disse...

No segundo, Nascimento está perdido. Não entende o que está acontecendo nas ruas, com a ascensão das milícias.

Assim, narrado por um personagem perdido, o filme surpreende pq o inimigo e os aliados não estão dados, vão se montando de forma impresivel. É imprevisível a aliança entre o Rocha, o apresentador, o Sec de Segurança e o Governador. Assim como tbm o é a intervenção da jornalista que vai ao território da milícia e revela esta aliança.

Também nos pega de surpresa o caminho dessa informação: da jornalista ao Fraga e ao Nascimento. E por fim, o BOPE reaparesse, agora de forma clandestina, junto a nascimento.

O filme é muito bom por causa disso. A surpesa e a tensão permanente tomam conta do expectador.

E só para lembrar, a oposição inicial do filme é a mesma do primeiro: O Bope contra o tráfico e os intelectuais, encarnados no Fraga. A trajetória do filme desconstrói isso, apontando um questionamento ao BOPE - nos dois filmes ele foi manipulado (no um, pelos caprichos do Papa e no dois, pela aliança Milícia-Governo-Imprensa, me refiro ao apresentador de programa policial). Então, a quem serve a eficiência indiscutível do BOPE?

Sobre a volta que os agente públicos dão em torno de si mesmos, isso está presente no primeiro, quando Fábio cobra propina de um bar, para que nenhum assalto ocorresse lá.

Daniel Maciel disse...

Pô Vinícius, deste jeito vou ter de te convidar para escrever no blog com igo!
hehehehhehe

É claro que concordo com vc em vários aspectos... e vamos continuar discutindo todos estes pontos

=)

Daniel Maciel disse...

A respeito dos protagonismos e conflitos: sim, este é o conflito na, digamos, “macro-esfera” dos atores sociais... no entanto, temos tbm os conflitos individuais, as contradições do Cap Nascimento, ele quer sair do BOPE, ele vai ter um filho, ele precisa de um substituto... Matias, quer fazer valer o estado de direito, do qual a polícia é um dos representantes por excelência. É importante dizer que a questão da polícia é fundamenta! Muito se discute se a polícia é o bem e o tráfico é o mal, a questão não é esta, a questão é, a polícia é aquela que deveria zelar pelo contrato social e exercer a lei e impedir o estado de natureza hobbesiano, é por isso que as pessoas se identificam tbm, não podemos esquecer que as palavras polícia e política derivam da palavra polis.... e o próprio Pimentel no livro “A Elite da Tropa” diz que não há estado sem polícia, seja ele totalitário, socialista ou mesmo democrático. Desta forma não é um posicionamento metafísico do espectador ( e olha que eu não sou um relativista!), mas sim uma identificação concreta com uma instituição que a despeito de tanta corrupção ainda é legítima e se legitima, mesmo que, pela coerção violenta. Então não se trata de sedução, mas de identificação. Sedução é quando oferecemos uma coisa e damos outra, Nascimento não faz isto...

Daniel Maciel disse...

Ainda fico com a opinião de que o Capitão Tenente Nascimento do segundo é mais plano... a amplitude dos conflitos do primeiro na minha opinião ofuscam os conflitos do segundo.

Veja bem, o filme é um sucesso absoluto da história da nossa cinematografia, não estou aqui de modo algum querendo desmerecê-lo, mas sim discuti-lo, assim, quando digo que no segundo o Nascimento é mais “passivo”, quero dizer o seguinte.

Há um filme, o L.A. Confidential, onde o personagem do Russel Crowe é um tira durão, mas de inteligência limitada, é muito boa a forma como desenvolve a ignorância do personagem e como ele é manipulado, mas é um filme multiplot, então o público sabe disso, mas sabemos que ele é bobão, e que ele não percebe.

No caso de filmes policiais, e os Noir, de detetives, o conhecimento se dá a partir da investigação do personagem, o público descobre a trama através do protagonista, isto ajuda a segurar a empatia, eu acho que no T2 o nascimento fica mais fraco como personagem por causa disto... a surpresa seria melhor se pegasse o público e o Nascimento ao mesmo tempo, pelo menos na minha opinião, mas eu sou um “aspira’ que sequer produziu um roteiro ainda.

Por fim, a questão da volta que os funcionalismo publico dá em torno de si próprio é presente no primeiro, mas não é o tema do filme, é apenas um detalho, no T2 já é o centro do argumento, até mesmo, como já disse, mais do que os personagens.