MARSHAK'S SECRETARY
The rabbi is busy.
LARRY GOPNIK
He didn't look busy!
MARSHAK'S SECRETARY
He's thinking.
Direção: Ethan Coen e Joel Coen
Roteiro: Ethan Coen e Joel Coen
Cast: Larry Gopnik (Michael Stuhlbarg); Tio Arthur (Richard Kind); Judith Gopnik (Sari Lennick), Sy Abelman (Fred Melamed), Rabino Nachtner (George Wyner) entre outros.
No meu modo de ver, o que os irmãos Coen mais gostam de fazer, é tentar subverter a dramaturgia clássica, testá-la, levá-la a seus limites.
Isto algumas vezes parece até dar certo, como, por exemplo, no caso do acidente de carro, quando Sy Abelman (Fred Melamed) morre. A montagem paralela que nos mostra Gopnik (Michael Stuhlbarg) dirigindo e se distraindo e perdendo totalmente a concentração ao volante quando vê Clive (o aluno que tentou suborná-lo para ser aprovado), isso se dá ao mesmo tempo em que Sy Abelman tenta cruzar uma rua muito movimentada. Tudo nos leva a crer, que em função dos problemas que Gopnik tem com Abelman e da situação apresentada pela montagem, que Gopnik irá causar o acidente que mata seu, de certo modo, antagonista. Mas isto não acontece, o que acontece é uma coincidência ainda pior. Sy Abelman morre em um acidente no mesmo momento em que Gopnik se distrai e também sofre um acidente.
Bem, todo roteirista iniciante encontra-se com uma regrinha básica, conforme a história progride, deve-se evitar progressivamente coincidências dentro da narrativa. No começo, quando o universo ficcional começa a ser construído as coincidências são mais aceitáveis, fazem parte do jogo, a partir de então, conforme a história progride, elas vão ficando cada vez menos críveis e aceitáveis.
Porém, assim que a fatalidade acontece, o próprio Gopnik procura o rabino Nachtner (George Wyner) e este através de um caso fantástico, diz que há coisas que não são explicáveis e não adianta tentar entender o que não tem explicação. Assim os Coen apresentam as regras do jogo já num estágio avançado da história e o espectador compra o fato. Eles fazem uma coincidência acontecer num estágio avançado da narrativa, mas logo em seguida dão uma explicação lógica (por mais ilógica que esta seja e, embora, de certo modo, isto já seja dado no episódio que antecede a história).
Mais duas coisas chamam a atenção a respeito do filme. Uma delas é a respeito do filme ser uma comédia, e neste sentido eu vejo um fracasso do filme. Vejamos que Aristóteles nos diz no começo do capítulo cinco da Poética acerca da comédia:
"A comédia, como dissemos, é imitação de pessoas inferiores; não porém, com relação a todo vício, mas sim por ser cômico uma espécie do feio. A comicidade, com efeito, é um defeito e uma feiúra sem dor nem destruição; um exemplo óbvio é a máscara cômica, feia e contorcida, mas sem expressão de dor."
A dificuldade de rirmos do sofrimento de Gopnik talvez demonstre apenas que o limite entre o cômico e a crueldade não é tão tênue como aparenta. É claro que, como já disse, os Coen sempre estão querendo questionar a dramaturgia clássica e experimentarem novos procedimentos, isto pode até ser bom, mas tenho certeza que não é fácil.
Por fim, e aproveitando que o Aristóteles já fora chamado, vamos a um aspecto que garante a qualidade do filme, a despeito de eu achar que ele fracassa enquanto comédia.
Um pouquinho antes de começar o capítulo cinco da Poética, Aristóteles escreve:
"Prova disso é o que acontece na realidade: das coisas cuja visão é penosa temos prazer em contemplar a imagem quanto mais perfeita; por exemplo, as formas dos bichos mais desprezíveis e dos cadáveres"
O naturalismo do filme chama atenção e este diz respeito à minuciosa imitação da vida e das contingências relativas à vida do homem moderno; problemas familiares, falta de estabilidade no trabalho, a falta de referências morais e religiosas e a dificuldade destes discursos darem conta da realidade social contemporânea, tudo isso sem soar excessivamente sociológico.
Os Coen são sim grandes cineastas, porém, creio que quando querem fazer certinho, eles fazem muito bem feito, porém, quando tentam fazer uma coisa (levar a comédia aos seus extremos), acabam fazendo outra (um filme excessivamente naturalista).
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Ao som de Jefferson Airplane, The Farm.