Sei que há todo esse papo de que nos identificamos com o personagem se vemos as coisas pela perspectiva dele, mas tudo pode ser relativo e nada é absoluto em termos de linguagem. De fato, quando você vê através de um POV o qual você não sabe de quem é, tudo fica mais interessante e gera uma incerteza sobre o personagem, e isso é fundamental para a construção do personagem de Michael Myers, alguém que sofre de uma enorme confusão mental e sua incapacidade de saber quem de fato ele é, e isso se transforma em ódio e desejo de sangue (percebe a minha projeção?).
Por falar em projeção, quando o filme começa, não sabemos nada sobre de quem é aquele ponto de vista, e isso gera uma lacuna que é preenchida com projeções do espectador. E para mim a possibilidade do espectador ter um alvo para projetar seus próprios horrores é fundamental para a resposta emocional do gênero, (por isso gosto muito do Atividade Paranormal, embora diversas pessoas subestimem esse filme).
Outra escolha feliz da direção e diretamente ligada a essa estratégia é revelar – e mostrar - muito pouco sobre Michael Myers, em consonância com o que é feito no plano sequência inicial.
Curto muito também a cena onde Dr Loomis, o psiquiatra de Myers, na rua, fica pensativo sobre o paradeiro de Myers. Dr Loomis está em primeiro plano enquanto o carro onde Myers persegue Laurie está parado ao fundo. Quando Dr Loomis olha para o outro lado, o carro passa por trás no sentido contrário do olhar do psiquiatra evitando que ele veja Myers. Myers persegue Myers, que persegue Laurie... uma baita forma visual de representar o jogo de gato e rato entre eles.
A propósito comecei a escrever para dizer que não havia gostado tanto do filme, mas depois de escrever minha opinião mudou radicalmente. Afinal, como diria o roteirista Bill D. Wittliff: “Como vou saber o que eu penso antes de ler o que escrevo?”
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