domingo, 28 de outubro de 2018

First Man - Damien Chazelle 2018




Assisti ao O Primeiro Homem que resolvi comentar minhas impressões.
A meu ver, é um filme sobre o sofrimento, e consequentemente, a busca pelo significado e beleza da nossa existência. O ponto de partida é uma dor infinita, a morte da filha dos Armstrong nos primeiros anos de vida. A propósito, há uma belíssima transição da criança dormindo para o pequenino caixão. Na hora lembrei do livro A Peste de Albert Camus, onde Riex, o personagem principal, faz as reflexões sobre o sofrimento, e o tipo de sofrimento mais inaceitável de todos, o sofrimento de uma criança.
“E, na verdade, nada havia de mais importante sobre a terra que o sofrimento de uma criança e o horror que esse sofrimento traz consigo e suas razões que é preciso descobrir”. Mas... “Quem poderia afirmar que a eternidade de uma alegria podia compensar um instante da dor humana?”
No livro, o padre adverte, mesmo que sendo visto com suspeição por RIeux: “Meus irmãos, chegou a hora. É preciso crer em tudo ou tudo negar. E quem, dentre vós, ousaria negar tudo?” E nesses termos, o sofrimento absoluto se transforma em alimento que empurra a humanidade em sua missão desconhecida... “O sofrimento das crianças era nosso pão amargo, mas sem esse pão, nossa alma pereceria de fome espiritual.”
Mas para além da perda da filha, a morte cerca todos o tempo todo. Janet Armstrong diz à amiga que fazia tempo que não iam a um velório, só no último projeto enterraram quatro colegas... mal sabiam, embora fosse previsível, que em breve iriam em outro.
Mas há coragem nos Armstrong, mesmo com a perda da filha, eles têm um novo bebê e não se intimidam. Mas essa coragem parece ter seus limites, numa sequência belíssima, o medo de Armstrong se despedir dos filhos é superado pela coragem da esposa. “Vá se despedir de seus filhos”. A despedida é encerrada pelo filho mais velho - ainda criança - não por um abraço afetuoso, mas por um aperto de mão firme e sério... de uma criança que já entendeu as limitações da vida humana.
Muito interessante a escolha da direção em trabalhar com inúmeros primeiros planos e planos detalhes num filme cujo assunto esteja relacionado à exploração do espaço do infinito. Mas esse contraste se justifica. A propósito, talvez seja o melhor filme que eu vi com o Gosling, e acredito que a capacidade expressiva dos atores, sobretudo dele e Claire Foy, foi excepcionalmente bem explorada.
Sem querer forçar a barra, mas achei que o filme estabelece um diálogo interessante com o Soliáris do Tarkóvski. Se em Soliáris há uma crítica à corrida espacial - no sentido de que a busca por desbravar o universo é de certo modo inútil se não nos aprofundarmos no entendimento daquilo que somos - , em O Primeiro Homem a jornada espacial é uma possibilidade de auto-conhecimento. Nesse sentido os planos mais fechados são uma escolha muito interessante, pois revelam muito dessa jornada emocional diante da existência e do desconhecido.
A progressão dramática, a jornada emocional de Armstrong, tem seu clímax diante do infinito, na percepção do significado de finitude humana, da sua beleza e o seu milagre, o que contrasta com o cenário cinza e estéril da Lua. Compreensão de algo que não pode ser dito em palavras e só o cinema em sua grandeza poderia mostrar.


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