quinta-feira, 29 de abril de 2010

High Concept definido de uma vez por todas



High Concept é um termo que tem sido confundido, mal compreendido e mal utilizado pelos escritores ao longo das décadas. O senso comum diz que qualquer filme pode ser sintetizado em uma frase. Mas, por exemplo, um homem que luta contra sua esposa pela custódia de seus filhos é uma sentença, e está muito longe de ser um High Concept.

Outros definem High Concept como o “cruzamento de um filme com outro”.  No filme,  O Jogador, de Robert Altman, os escritores apresentam seu projeto para um produtor como uma mistura entre Out of Africa e Pretty Woman.  Isso não é o High Concept de um filme. O que eles usaram foi uma definição técnica antes de fazer o pitching, preparando o ouvinte para o que está por vir. Você cruza dois filmes bem conhecidos e que estejam próximos do material que você irá apresentar para o produtor ter alguma idéia de onde você quer chegar. Essa é uma técnica de pitching comum, mas não é um High Concept.

Idéias de histórias, tratamentos e roteiros até podem ter premissas como High Concept. Mas só projetos genuinamente High Concept  podem ser vendidos em um pitching, pois eles são destinados a isso. Projetos Não High Conception não podem ser vendidos em um pitching por que são muito mais complexos. Eles têm que ser analisados com mais profundidade, geralmente por seu apelo não ser óbvio para alguém que simplesmente dê uma olhadela numa logline. Esta é a razão pela qual filmes como “Pulp Fiction”, “Star Wars” e “Sideways” nunca poderiam ser vendidos a partir de um pitching.

Na minha definição de High Conception, você fala sobre a premissa de sua história, não o que acontece em Atos 1, 2 e 3.  A premissa, ou o logline é o núcleo do High Concept.

Minha definição de High Concept é composta por cinco elementos fundamentais, sendo todos obrigatórios, estando os cinco por ordem crescente de importância. Portanto, o Um e o Dois são os mais importantes, bem como os mais difíceis. Encontrar apenas algumas das exigências não é suficiente. Todas as cinco condições devem ser cumpridas para obter sucesso com aqueles que podem se interessar pelo mesmo.


REQUISITO 1 - Sua premissa precisa ser original e única

Uma logline tem de uma a cinco sentenças, numa média de três. Portanto, você precisa apresentar seu material de forma comprimida e econômica que capture a essência de sua história e mostre a sua originalidade. Muitas das minhas apresentações são uma ou duas longas sentenças. Cada escritor deveria praticar suas apresentações ou trabalhos da maneira mais compacta possível, em apenas uma frase. Isto vale tanto se sua história for High Concept ou não.

Na busca por originalidade nós não estamos falando sobre inventar a roda. Podemos pegar um assunto tradicional, que já fora tratado antes e adicionar um novo gancho ou torcê-lo para que se transforme em algo original. Vejamos o tema do seqüestro, havia dezenas de filmes que tratavam deste assunto antes. No filme Ransom, Mel Gibson interpreta um empresário rico, cujo filho é seqüestrado. Essa história em si não oferece nada de novo. A originalidade do filme é que em vez de pagar o resgate, Gibson pega o dinheiro e contrata alguém para pegar os seqüestradores. Isso “torce” a idéia original deixando original, portanto, High Concept.

Permanecendo no gênero de rapto, a comédia Ruthless People segue o mesmo padrão. Danny DeVito interpreta um homem rico cuja esposa, interpretada por Bette Midler, é raptada. Desafiando convenções, o personagem de DeVito se recusa a pagar o resgate, porque ele odeia sua esposa e vê com o seqüestro uma grande oportunidade de finalmente livrar-se dela. Agora, os seqüestradores ficam com uma mulher impossível e não tem idéia do que fazer com ela. Novamente, é esta virada original que faz o High Concept.


REQUISITO 2 - Sua história tem de ter apelo de público de massa

Isto quer dizer que pode ser possível criar uma história que atenda ao requisito um, uma história original que nunca tenha sido pensada antes. Mas esta história pode ser tão estranha que o recurso só exista na mente do escritor que a criou, e de ninguém mais.

Um exemplo seria a história de uma menina que acordou uma manhã e transformou-se em uma borboleta, e voou para a terra de Shangri-La. Isso nunca foi feito antes, mas quem se importaria? Apelo de massa significa que nove em cada dez pessoas pagaria dez dólares para ver seu filme vendo apenas uma pequena apresentação. Você precisa decidir se você está escrevendo para o seu próprio prazer ou se você está escrevendo para vender. Sé é para vender, então você tem que levar em conta o mercado.

REQUISITO 3 - Sua apresentação deve ter uma história específica.
Isto quer dizer que em sua apresentação você deve ter detalhes específicos que fazem sua história ser diferente e que adicione cor e profundidade a mesma.  Vamos pegar uma trama de assalto a bancos. Se você apresenta uma história sobre três pessoas querendo roubar um banco, cavando um túnel embaixo dele, a resposta seria; e daí? A mudança que poderá dar originalidade ao seu filme e deixá-lo em grande estilo. Pode ser, por exemplo, sobre três velhinhos que tentam roubar um banco. O motorista do bando tem sua habilitação revogada, o observador é deficiente visual e o cérebro do bando é Georg Burns, de setenta e cinco anos. Estes detalhes específicos valorizam a história e a mantém longe de ser velha e genérica.

REQUISITO 4 - O potencial deve ser óbvio

Se você está apresentando uma comédia, então o potencial de humor deve ser óbvio em sua apresentação. Pessoas devem rir e gargalhar quando você as conta. Se você está apresentando um filme de ação, o ouvinte deve ser capaz de imaginar a cena de ação em sua cabeça como você as apresenta. Eu vendi um projeto à Miramax chamado My Kind of Town com os irmãos Wayans indicados para estrelarem. É sobre dois caras que querem começar uma nova vida. Eles pegam um carro pequeno e se vão, sem um destino particular. Próximos de uma cidade do sul dos EUA eles entram na mesma para comprar um mapa, e na prefeitura, o teto cai sobre suas cabeças. Eles ganham um processo contra a cidade, mas a cidade não poderá pagá-los se eles não se mudarem para a cidade. O potencial de humor é bastante claro quando entregamos os irmãos Wayans a uma cidade do sul para fazerem com eles o que quiserem.

REQUISITO 5 - Sua apresentação deve ter de uma a três sentenças longas.

As apresentações não devem ser longas, você não deve ultrapassar cinco ou seis sentenças. Você não deve dizer o que acontece nos atos 1,2 e 3, a menos que você seja convidado a fazê-lo mais tarde. Você está dando a premissa de sua história. Já passei dias moldando meu logline, tentando incluir tanta informação em tão poucas palavras quanto possível.

Eu já tive milhares de projetos arrojados apresentados para mim em mais de vinte anos e os escritores pensam erradamente em deixar para mais tarde o melhor da história. Mas ninguém quer ouvir um discurso de uma hora enquanto eu poderia ler o roteiro em menos tempo. Digo aos escritores para apresentarem-me a história em duas frases. A maioria não consegue, pois não conhecem os cinco requisitos e lhes falta capacidade de condensar e preparar devidamente seus pitchings com antecedência.
Quando for apresentar seu pitching diga sobre o quê sua história é, não sobre o que acontece na história. Você não pode começar sua apresentação com: “Minha história é sobre uma mulher de 26 anos chamada Jill, que vivem em Chicago. Ela é infeliz em sua vida. Ela vai para seu escritório onde confronta seu chefe. Ela demite-se, então vai para casa e briga como namorado”. Isso não é um pitching é um desdobramento chato da história e o que você tem de evitar a todo custo.

A reação que você quer ouvir é “Uau! Por quê eu nunca pensei nisto antes?” ou, “Isso é tão bom por quê ninguém fez este filme antes?”, “Quando os rostos brilham no ambiente depois de você se apresentar, você sabe que os têm. Esta é a sacada, quando você “pega na veia”. É isto que a idéia de High Concept quer dizer.

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Steve Kaire já vendeu (optioned) oito projetos para as majors, incluindo Warner, Columbia, United Artists e Interscope sem representação. Ele tem sido destaque em diversas publicações da indústria e é um orador procurado no circuito de palestras. Ele também lesionou aulas no American Film Institute.

Se quiser consultar o link original, clique AQUI.


quarta-feira, 28 de abril de 2010

Kramer vs Kramer (1979)


               MARGARET
          Joanna is a very unhappy woman 
          and it took a lot of courage to 
          walk out this door.
 
               TED KRAMER
          How much courage does 
          it take to walk out 
          on your kid?

Direção: Robert Benton

Roteiro: Robert Benton baseado na novela de Avery Corman

Elenco: Ted Kramer (Dustin Hoffman), Joanna Kramer (Meryl Streep), Billy Kramer (Justin Henry), Margaret Phelps (Jane Alexander), entre outros.

Um dia depois de perder duas horas da minha vida assistindo ao All The President's Men me deparo com esta obra prima. Infelizmente, não tenho condições de fazer um estudo elaborado sobre o roteiro, mas posso dizer que é a composição do mesmo é estraordinária. A forma como acompanhamos Ted Kramer, seu desenvolvimento, a forma como isto nos é passado (ele preparando o café no começo eno final do filme!) é excelente. Creio que irei me debruçar ainda sobre este roteiro, pois ele tem muito a ensinar, sobretudo em como estabelecemos uma oposição entre dois personagens sem transformá-los em dois inimigos mortais.

Inclusive encontrei mais um bom site para roteiros, quem quiser dar uma olhada no roteiro do Kramer vs Krmaer, clique AQUI e aproveite e conheça o myPDFscripts.

terça-feira, 27 de abril de 2010

All The President's Men (1976)


                          WOODWARD
          If you're gonna do it,
          do it right. If you're 
          gonna hype it, hype it
          with the facts. I don't
          mind what you did. I 
          mind the way you did it.


Direção: Alan J. Pakula

Roteiro: William Goldman, baseado no livro de Carl Bersntein e Bob Woodward

Elenco: Carl Bersntein (Dustin Hoffman), Bob Woodward  (Robert Redford), Harry Rosenfeld ( Jack Warden), entre outros.

É um dos poucos filmes do William Goldman que assisti e me decepcionei bastante. Acho um saco ter de ficar seguindo os dois jornalistas na sua investigação citando uma infinidade de nomes de pessoas "fodonas". Você não sabe quem é que e os caras "fodões" nunca parecem representar um perigo real.

Para finalizar o Woodward fica bravo com o Garganta Profunda e diz, "Para de me enrolar", ai o Garganta Profunda se intimida?! E conta tudo?!

Passemos para os próximos.


Entrevista com Fernando Meirelles

Para melhorar precisamos de mais filmes

Luiz Felipe Reis

Fernando Meirelles não é apenas um dos mais bem sucedidos realizadores da retomada – como foi chamado o período de “renascimento” do cinema brasileiro, após a estagnação provocada pelo fim da Embrafilme no governo Collor – que completa 15 anos em 2010. Presidente do júri do Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF), que destaca a produção desta fase como mote de sua 4ª edição (realizado entre terça-feira até 2 de maio, na capital mundial do cinema), o diretor é o dono do filme brasileiro de maior repercussão no cenário internacional ao longo destes anos. Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Cidade de Deus (2003) se transformou em referência estética e temática da produção cinematográfica nacional da última década.

Em entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil, Meirelles ressalta os benefícios da implementação das leis de incentivo em meados dos anos 90, analisa a evolução técnica e intelectual da produção cinematográfica nacional ao longo da retomada e revela detalhes de suas novas criações à frente da O2. Há 18 anos à frente da produtora, ele acredita que a retomada “reciclou e continua reciclando” o cinema brasileiro. E é por isso que ele não para. Está envolvido nos longas VIPs(Toniko Melo), Xingu (Cao Hamburguer), no documentário José e Pilar, na série para TV Brazucas, outra chamada provisoriamente de São Jorge, assim como no documentário Lixo extraordinário, sobre um trabalho de Vic Muniz, premiado em Sundance e em Berlim.

– É mais coisa do que eu deveria abraçar – comenta o diretor, que após Ensaio sobre a cegueira já se prepara para um novo longa próprio. – Começo a rodar em agosto, mas só vai ser anunciado em maio.

Além da criação das leis de incentivo, quais outros componentes possibilitaram a retomada? – As leis viabilizaram este renascimento.

A partir daí, com o aquecimento do mercado surgiram novas escolas de cinema e uma geração de novos diretores, fotógrafos, montadores, figurinistas etc. Hoje há muito mais cabeças pensando e fazendo cinema no Brasil do que há 15 anos. Agora, quando um filho diz aos pais que quer fazer cinema, eles já não se perguntam onde erraram.

Até então, a produção anual não chegava nem a 10 longas por ano. Hoje chegamos perto de 100 filmes anualmente.

Esse crescimento foi acompanhado por evolução em quais setores dentro da cadeia produtiva? – Em A dialética da natureza, (o filósofo Friedrich) Engels diz que tanto no mundo social como no natural podemos ver como a quantidade se transforma em qualidade. Ele só se esqueceu de dizer que no mundo do cinema isso também acontece. O cinema americano nos parece melhor que o nosso porque eles produzem perto de mil longas por ano. Do total, apenas os 6% ou 7% melhores chegam aqui, e mesmo assim muita porcaria.
Os filmes americanos que gostamos não passam de 2% do total.

E sendo generoso... Para termos um cinema melhor precisamos de mais produções. Isso significa mais equipes treinadas, mais talentos surgindo e melhores filmes lançados.

Você poderia eleger um filme símbolo da retomada? – Hámuitos.Carlota Joaquinanos devolveu a esperança de que seria viável fazer filmes no Brasil, Central do Brasil que voltou a colocar nosso cinema no mundo, Tropa de eliteque conseguiu gerar um debate nacional como a muito não se via no cinema, a série de sucesso de bilheteria dos filmes do Daniel Filho que reforçam a ideia da viabilidade de uma indústria brasileira, os filmes do Guel Arraes, que aproximam o cinema da TV.

O Daniel Filho, que é o maior arrecadador desde a retomada, diz que é impossível fazer os seus blockbusters sem o apoio das leis de incentivo. Essa evolução não foi capaz de impulsionar a criação de uma indústria de cinema...

– Não é possível financiar filmes no Brasil apenas com bilheteria.

Também sinto que os mecanismos de financiamento não devem ser vistos como uma situação temporária. Assim como o Estado deve investir em educação e saúde pública, deve fazer o mesmo em cultura. É curioso como ninguém acha que um hospital público ou um submarino precisam ser negócios autossustentáveis, mas na área de cultura cobra-se isso. Numa economia ou num mundo sustentável o trabalho deveria sair da área de produção e consumo de bens e migrar para a educação e cultura, que são atividades não só mais limpas como também geram mais felicidade.

Como vê o gargalo de distribuição para os filmes autorais feitos neste período? Um diretor como Júlio Bressane, por exemplo, mal consegue salas...

– Quando o Bressane faz um filme sem concessões sabe que está estreitando as suas chances de distribuição no mercado. É uma opção e estou certo que ele sabe disso. Sou sócio de um cinema em São Paulo, o Belas Artes, e tentamos prolongar ao máximo a exibição de filmes que tiveram menos chance, mas de que gostamos muito. Às vezes deixamos filmes que fazem 40 ou 50 espectadores por semana por 21 dias em cartaz mesmo sabendo que estamos subsidiando a exibição, mas chega uma hora que a sala precisa voltar a vender ingressos.

Nós, que fazemos e amamos cinema, lutamos para fazer isso, mas imagine se uma empresa cujo objetivo é comercial vai ter esse raciocínio.

Você se preocupa com esse tipo de dualidade entre comercial X autoral? – Não penso dentro destes parâmetros, mas claro que sei o que significam. O que me incomoda nesta polarização é que ela nos leva a acreditar, erroneamente, que um filme que vende muitos ingressos não tem qualidade artística e que um filme autoral não interessa ao grande público. Há muitas áreas cinzentas entre este preto e branco...

Virou moda diretores lançarem seus filmes anunciando expectativas de que o filme bata a casa do milhão. Como vê essa corrida do ouro? –Ainda bem que existem excelentes diretores que fazem filmes que levam milhões de pessoas ao cinema. Este troço funciona um pouco como o mundo da moda ou da Fórmula 1. É preciso ter aqueles que correm mais riscos e experimentam para que a linguagem e a técnica evoluam, mas também são importantes os outros, que adaptam estas invenções para o grande público e que, no fundo, são os que viabilizam e justificam as experimentações.

Quando um artista quiser testar os limites de suas ideias ou de sua subjetividade às vezes é melhor escrever um poema. Cinema não é a forma mais adequada para a expressão pessoal. É trabalho de muitos para muitos.
Cidade de Deus’ foi um dos maiores sucessos do cinema brasileiro no exterior. Até que ponto esse ‘fetiche’ pelo cinema que aborda a violência ou questões sociais engessa a multiplicidade temática e a recepção internacional da nossa produção? – Cidade de Deus e outros filmes que mostram a exclusão urbana no Brasil interessaram ao mercado internacional por serem diferentes.

Por mostrar um mundo que era desconhecido. Para ver uma comédia romântica ou um drama sobre classe média, cujos problemas são muito semelhantes em toda parte, o mercado internacional prefere ver os filmes que são produzidos em suas terras ou em suas línguas. Mas isso é só uma hipótese. Estamos produzindo um filme chamado Xingu, que vai ser dirigido pelo Cao Hamburguer. Esse filme, por se tratar de índios e ter um roteiro brilhante, deve ter uma boa aceitação internacional.

Qual a importância de um festival como o LABRFF? Além disso, o que lhe atraiu na ideia de presidir o júri? – Todo encontro da classe gera uma espécie de sinergia, nascem parcerias. Aliás, entrei no júri pela possibilidade assistir a 15 filmes brasileiros recentes que talvez não visse no cinema por razões diversas. A seleção traz filmes regionais, outros sobre classe média urbana, comédias, dramas adolescente, histórias rodadas fora do Brasil, filmes de gênero e documentários. Apesar de faltar bons filmes brasileiros que vi no ano passado, é uma mostra plural que espelha a diversidade de caminhos do cinema feito aqui.

Até que ponto um festival neste molde serve para dar visibilidade internacional à produção brasileira, abrir caminhos para a exibição de filmes no circuito americano, mesmo que seja o alternativo? – O festival é recente e festivais, assim como jornais, precisam de tradição para ganhar credibilidade. Mas é uma janela, pode gerar venda ou convites da indústria local. LA é um lugar onde fazer cinema é tão natural como colher cacau na Bahia ou abafar escândalos em Brasília.

Como você define sua filmografia? Que tipo de cineasta é Fernando Meirelles? – Acho que eu sou mais um contador de histórias eficiente do que um “autor” naquele sentido francês da palavra. Não faço filme de arte e nem filme para arrebentar na bilheteria, não que não gostasse que isso acontecesse.

Acho que meu nicho é o que o mercado internacional chama de smart art.

Filmes com alguma pegada, mas que falam com certo público.

O tal do cinza.

Domingo, 25 de Abril de 2010

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Para AQUI acessar o link original do Jornal do Brasil OnLine.

Crash (2004)


                GRAHAM
            [on the phone]
        Mom, I can't talk to you right now,
        okay? I'm having sex with a white woman.
            [hangs up, and Ria gets out of bed

Direção: Paul Haggis


Elenco: Elizabeth (Karina Arroyave), Lucien (Dato Bakhtadze),   Jean Cabot (Sandra Bullock), Det Grahan Waters (Don Cheadle), Ken Ho (Art Chudabala), Fred (Tony Danza), Ria (Jennifer Esposito), Officer John Ryan (Matt Dillon), Rick Cabot (Brendan Fraser), Keren (Nona Gaye), Tom Hansen (Ryan Phillippe), Cameron Tyler (Terrence Howard), Daniel (Michael Peña), Farhad (Shaun Toub), Dorri (Bahar Soomekh), entre outros.

Haggis tem um profundo conhecimento do trágico. Entendemos por trágico aquilo que acontece de ruim aos personagens em função de suas próprias virtudes. Uma ação "positiva" que gera uma reação "negativa". É claro que a definição é bem mais complexa. Se se interessar pelo assunto, sugiro a leitura do livro; Ensaios sobre o Trágico de Peter Szondi.


Mas vejamos, Daniel (Michael Peña) quando vai conversar com Farhad (Shaun Toub), iraniano, o dono da loja, ele diz que a fechadura não tinha conserto, por isso trocou-a. Além disso avisa que é melhor trocar a fechadura. Ao ouvir isso, Farhad acusa Daniel de estar fazendo lobby para vendedores de porta. Mais tarde, quando a loja é assaltada, o dono da loja suspeita de Daniel, vai atrás dele e... bem, quem não viu ainda pode ver o filme. Vale a pena.

Em outra sequência, Anthony (Ludacris) diz que se orgulha de jamais ter assaltado um negro. O que ele faz depois?

O Oficial Tom Hansen (Ryan Phillippe) se indispõe com o oficial John Ryan (Matt Dillon) por ele ser racista, e o que Tom Hansen faz, justamente depois de um ato de camaradagem ao dar carona para um negro?

recomendo a todos assistirem ao filme e confirmarem o que eu digo e recomendo também que descubram outros personagens trágicos.
 


Los Angeles, Cidade Proibida ( L. A. Confidential - 1997)


                 PATCHETT
          I use girls that look like
          movie stars.Sometimes I employ
          a plastic surgeon. When the 
          work had been done, that's
          when you saw us. 

                 WHITE
          That's why her mother couldn't 
          I.D. her. Jesus fucking Christ.
 
                 PATCHETT 
          No, Mr. White. Pierce 
          Morehouse Patchett.


Direção: Curtis Hanson

Roteiro: Brian Helgeland e Curtis Hanson, baseado na novela "L.A. Confidential" de James Ellroy

Elenco: Jack Vincennes (Kevin Spacey), Bud White (Russell Crowe), Ed Exley (Guy Pearce), Dudley Smith (James Cromwell), Lynn Bracket (Kim Basinger), Syd Hudgens (Danny DeVito), Pierce Patchett (David Strathairn), entre outros.

Convenhamos, um cafetão que trabalha comprostitutas que se parecem com atrizes famosas é uma excelente idéia.


Pulp Fiction (1994)

                       
                    WINSTON
       You hear that, young lady? Respect.

       You could lean a lot from those two
       fine specimens. Respect for one's 
       elders shows character.
 
                    RAQUEL
       I have character.

                    WINSTON
 
       Just because you are a character
       doesn't mean you have character.





Elenco: Vincent Vega (John Travolta), Jules Winnfield (Samuel L. Jackson), Pumpkin - Ringo (Tim Roth), Honey Bunnny - Yolanda (Amanda Plummer), Lance (Eric Stoltz), Butch Coolidge (Bruce Willis), Marceluss Wallace (Ving Rhames), Mia Wallace (Uma Thurman), Jimmie Dimmick (Quentin Tarantino), Winston "The Wolf" Wolfe (Harvey Keitel).

Uma das cenas que mais gosto do filme é a que Butch volta em casa para buscar o relógio. Sem dúvida, é uma das minhas preferidas. 


quinta-feira, 22 de abril de 2010

Los Abrazos Rotos (2009)




                            BLANCO/CAINE
                    Que filho da puta!


                            DIEGO
                    Não acha que ele
                    está falando dele mesmo?

                            BLANCO/CAINE
                    Acho que sim...

---

                            BLANCO/CAINE
                    Os filmes têm que ser terminados,
                    ainda que sejam às cegas...


Direção: Pedro Almodóvar


Elenco: Lena (Penélope Cruz), Mateo Blanco/ Harry Caine (Lluís Homar), Judit Garcia (Blanca Portillo), Ernesto Martel (José Luis Gómez), Ray-X (Rubén Ochandiano), Diego (Tamar Novas), entre outros.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Roberto DaMatta - "A Reforma do Estado e Cultura"

Pensando em melhorar e diversificar mais minhas postagens, resolvi postar esta sequência de vídeos do antropólogo Roberto DaMatta. Por que eu resolvi postar? Simplesmente por que eu acredito que um roteirista deve, obrigatoriamente, possuir uma grande cultura, e conhecimento do quê, de e para quem ele escreve. Tenho certeza, que de uma discussão desta, inúmeras questões, tipos e problemas podem servir de base e de inspiração para muitos que escrevem ou querem escrever roteiros para o cinema.







Hannibal (2001)


 
                    STARLING
        Do right and you'll live through this.

                   LECTER
        Spoken like a Protestant.

Direção: Ridley Scott

Roteiro: David Mamet, Steven Zaillian da novela de Thomas Harris 

Elenco: Hannibal (Anthony Hopkins), Clarice Sterling (Julianne Moore), Mason Verger (Gary Oldman), Paul Krandler (Ray Liotta), entre outros. 

Simplesmente eu curto demais o final deste filme... só isso.




Por falar em final, depois comparem com este e me digam se percebem a pequena diferença e digam-me, qual é o pequeno detalhe que diferencia os dois. E qual vocês preferem?




Dica de exercício: Beats


(Extraído da páguina 46 do Livro; Story - Substância, Estrutura, Estilo e os fundamentos da Arte da Escrita de Roteiro, Editora Arte e Letra,  Curitiba, 2006.)

Dentro de uma cena, o menor elemento da estrutura é o Beat. (Não confundir com o [Beat], uma indicação dentro de uma coluna de diálogo que significa pausa curta”.)

Um BEAT é uma mudança de comportamento que ocorre por ação e reação. Beat a Beat, esse comportamento em transformação molda o ponto de virada da cena.

Observe bem a cena do casal “terminando”; quando o despertador toca, Chris caçoa de Andy, que responde na mesma moeda. Enquanto se vestem, a brincadeira vira sarcasmo e eles começam a insultar-se mutuamente. Já na cozinha, Chris ameaça Andy com: “se eu te deixasse baby, você seria tão miserável...”, mas ele entende seu blefe e diz: “essa é uma miséria que eu adoraria”. Na garagem; Chris com medo de perdê-lo, implora para Andy que fique, mas ele ri e a ridiculariza pelo seu apelo. Finalmente, como carro andando, Chris fecha a mão e soca a boca de Andy. Uma briga, um barulho de freada. Andy sai do caro com o nariz sangrando, bate a porta e grita “acabou!”, Deixando-a chocada.
Essa cena é construída em seis beats, seis comportamentos claramente diferentes, seis mudanças claras de ação e ração: brincando um com outro, seguido por tomá-lá-dá-cá de insultos, ameaças e desafios mútuos, depois súplicas e ridicularizações e finalmente trocas de violência que nos levam ao último Beat e Ponto de Virada: a decisão e a ação de Andy que encerrem o relacionamento, e a perplexidade perturbante de Chris.

Assista a última cena do filme. (Se preferir pode fazer das duas e comparar depois, afinal, você decide o seu grau de envolvimento)

Depois de assitir, anote, a partir do momento em que Clarice Sterling acorda até o final, quando Lecter encontra-se no avião, todas os beats da cena. Ou seja, todos os momentos em que há mudanças motivadas pelo estado emocional dos personagens e a nova direção que a ação toma a partir da reação dos mesmos.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Menina de Ouro (Million Dollar Baby - 2004)



Direção: Clint Eastwood


Elenco: Frankie Dunn (Clint Eastwood), Maggie Fitzgerald (Hilary Swank), Eddie Scrap-Iron Dupris (Morgan Freeman), Big Willie Little (Mike Colter), Danger Barch (Jay Baruchel), e Shawrelle Berry (Anthony Mackie), entre outros.

SCRAP (V.O) (CONT'D)
People love violence. They'll watch
a cock slash a rooster's troat;
they slow down at car wrecks to check 
for bodies. They'll stand outside a 
bar, watch two friends stab each
to love boxing. They got no idea what it is.

We find...

A GIRL

fair, thin, looks early thirties; call her MAGGIE. She's standing in the tunnel, a bruise swelling on her cheek, her hair matted from drief sweat, a worn boxing robe pulled around her shoulders.

SCRAP (V.O.) (CONT'D)
Boxing is about respect.

Her eyes stay fixed on...

FRANKIE

shouting instructions from Willie's corner. Big Willie clutches his opponent, struggling to undestand Franke.

SCRAP (V.O) (CONT'D)
Gettin' it yourself...
(MORE)

Frankie motions two low body lefts and an overhand right.

WILLIE

gets it, breaks free and:

MAGGIE

watches a Big Willie delivers two devasting lefts to the body, and an overhand right that sends his opponent sprawling to the canvas.

SCRAP (V.O) (CONT'D)
And takin' it away from the other guy.


Exercício

Gosto muito deste filme e acho que este roteiro comprova o talento de Haggis e de Eastwood. Recomendo um exercício de caracterização de personagens, algo que é bem complicado e cuja dificuldade nunca diminui, pois sempre precisamos criar novos tipos interessantes e vivos.

Leia as primeira quinze páginas do roteiro e depois veja os quinze primeiros minutos do filme. Logo depois, pegue papel e caneta e anote todos os elementos que conseguir lembrar que dê informações  sobre Frankie Dunn, Maggie Fitzgerald, sobre o narrador, Eddie Scrap, sobre Big Willie e sobre o Boxe.(Se quiser fazer vendo cena por cena, faça-o depois de tentar fazer de memória.)

Depois pegue as características de Frankie Dunn e divida as mesmas por esferas específicas, como esfera profissional, econômica, religiosa, intelectual, erótica, familiar, emocional, anote mesmo as mais explícitas e tente ver as mais sutis.

Acho este um exercício muito gostoso de fazer, além de ser bastante didático.

Se alguém postar aqui suas observações eu ficaria bastante satisfeito.



Matrix Revolutions (2003)


WOMAN (CONT'D)

One thing I’ve learned in all my years is that 
nothing ever works out just the way you want it to.
 




Elenco: Neo (Keanu Reeves), Morpheus (Laurence Fishburne), Trinity (Carrie-Anne Moss), Oracle (Mary Alice), entre outros.


Diálogos chatos, explicativos e piegas, cenas previsíveis, personagens sem surpresas, final confuso, simplesmente, nem tudo sai como a gente espera...