quarta-feira, 17 de março de 2010

Suspicion (1941)

 

JOHNNIE AYSGARTH
If you're going to kill someone, do it simply. 



Direção: Alfred Hitchcock

Roteiristas: Samson Raphaelson , Joan Harrison , Alma Reville. Da novela de Anthony Berkeley "Before the Fact".
Estou desenvolvendo uma história policial, com direito a assassinos seriais e muito suspense. Estou com boas idéias e inspirado. Por isso resolvi reestudar e rever o grande mestre Hitchcock. Comecei lendo o livro de entrevistas que o Truffaut realizou com ele, e creio que, sem afetação, este seja um dos principais livros da história do cinema, não é coisa de cinéfilo não, ali Hitchcock fala de toda sua obra, da passagem do cinema mudo para o sonoro e do branco e preto para o colorido, fala de sua mudança para os EUA. Há muitas curiosidades, tais como esta sobre o filme Suspicion, onde Truffaut fala de uma cena famosa:

Truffaut: Quando Cary Grant sobe a escada é ótima.

Hitchcock: Eu tinha mandado por uma luz dentro do copo de leite.

Truffaut: Um projetor dirigido para o leite?

Hitchcock: Não, no leite, dentro do copo. Porque tinha de ser extremamenteluminoso. Cary Grant sobe a escada e era preciso que só se olhasse para aquele copo.





Mas não é só curiosidade de cinéfilo não, Hitchcock fala muito de questões técnicas, como a já citada e também sobre roteiro e dramaturgia. Uma das questões que estavam me incomodando quando fui reler o livro, era sobre a interminável discussão sobre verosimilhança.

Hitchcock: A verossimilhança não me interessa. É o mais fácil de se fazer. Em Os Pássaros , há uma cena longa no bar onde as pessoas falam de pássaros. Entre estas pessoas, há uma mulher de boina, que é justamente uma especialista em pássaros, uma ornitologista. Está lá por mera coincidência. Naturalmente eu poderia ter filmado três cenas para introduzí-la de modo verossímel, mas estas cenas não teriam o menor interesse.

Truffaut: E para o público seria uma perda de tempo.

Hitchcock: Não é só uma perda de tempo, mas seriam como buracos no filme, buracos ou manchas. Sejamos lógicos: se você quiser analisar tudo e construir tudo em termos de plausabilidade e verossimilhança, nenhum roteiro de ficção resiste a esta análise e você só poderá fazer uma coisa: documentários.

Truffaut: É bem verdade. O limite do verossímil é o documentário. Aliás, os únicos filmes qu gozam da unanimidade da crítica mundial são, em geral, os documentários com a Ilha Nua, em que o artista oferece seu trabalho, mas nada que venha de sua imaginação.

Hitchcock: Pedir a um homem que conta histórias para ter em mente a verossimilhança me parece tão ridículo como pedir a um pintor figurativo prara representar as coisas com exatidão. Qual é o cúmulo da pintura figurativa? É a fotografia em cores, não é? Concorda?
Há uma grende diferença entre a criação de um film e de um documentário. No documentário o diretor é Deus , foi ele quem criou o material de base. No filme de ficção , o diretor é que é um deus, ele é quem é que deve criar a vida. Para fazer um filme é preciso justapoir massas de impressões, massas de expressões, massas de enfoques e, contanto que nada seja monótono, deveríamos dispor de liberdade total. Um crítico que me fala de verossímil, é um sujeito sem imaginação.

Truffaut: Observe que, por definição, os críticos não têm imaginação, e é normal. Um crítico imaginativo demais não conseguiria ser objetivo. É justamente esta ausência de imaginação que os leva a preferir as obras muito despojadas, muito nuas, aquelas que lhes dão a sensação de que eles quase poderiam ser seus autores. Por exemplo, um crítico pode se achar capaz de escrever o roteiro de "Ladrões de Bicicletas", mas não o de "Intriga Internacional", e, inevitavelmente, consegue pensar que " "Ladrões de Bicicletas" tem todos os méritos e que "Intriga Internacional" não tem nenhum.

Hitchcock: Justamente, você cita "Intriga Internacional", a crítica do "New Yorker" dizia que eraum filme "inconscientemente engraçado". Na verdade, A filmagem de Intriga Internacional" foi uma imensa brincadeira; quando cary Grant estava no monte Rushmore, eu queria que ele se refugiasse dentro da narina de Lincoln e que ali começasse a espirrar violentamente, teria sido divertido, hein?

Bem, fico por aqui, senão acabo transcrevendo o livro todo. Mas fica ai a dica, leia o livro e veja os filmes.



Um comentário:

Otávio Rangel disse...

Sensacional esse livro que vc citou. Já tinha o visto na Cultura, e sempre tive muita vontade de comprá-lo, mas me mudei de São Paulo e por aqui não o encontro mais.
Parabéns pelo post.