ALEMÃO
É a boca do dragão!!!
Direção: Elias Junior
Roteiro: Elias Junior e Ana Carolina Souza, baseado em livro de Conte Lopes.
Cast: Mauricio Bonatti, Alex Moreira, Thiago Guastelli, Flavio Micchi, Che Moais, Ivan Vilabella, João Miller, entre outors.
Há algum tempo um amigo apareceu com o filme. Eu sequer havia ouvido falar e fiquei muito curioso, pois pelo que pude entender, o filme era "extremamente" independente. Eu queria ver o que era um filme "extremamente" independente brasileiro.
Já de início podemos perceber tratar-se de um filme independente. Independente de diversas regras básicas da dramaturgia cinematográfica. Antes de um filme independente, é, por incrível que pareça, um filme subversivo, pois, subverte diversas regras de como contar uma história. O engraçado, no fato de eu considerá-lo subversivo,é o fato de ser um filme baseado em um livro escrito por um ex-policial e sobre a a polícia.
Em primeiro lugar, as cenas são descritivas demais, já de início, os dois bandidos, Vadão e um outro conversam, eles falam, falam e falam sobre a situação, eles simplesmente não fazem nada, apenas descrevem o que aconteceu, acontece e acontecerá.
O filme comete um outro deslize. Ele simplesmente não dá um personagem com quem o público possa se identificar. Sendo um filme que visa mostrar o lado da ROTA e o heroísmo de seus soldados, faz com que nós nos identifiquemos com o Vadão ( .Che Moais é o melhor ator do filme, de longe). Quando ele some, ficamos totalmente perdidos. Depois temos uma miríade de personagens repetitivos e que não conseguem segurar o foco. Vejamos o tal do Tenente Bruno, que parece ser o protagonista. Pensamos que ele irá enfrentar vários desafios para ser aceito na ROTA, nos preparamos, peguntamos, como serão estes testes e treinamento? De repente, ele recebe a braçadeira sem sequer passar por alguma provação. Bruno não tem nenhuma ação concreta no filme, apenas carrega uma culpa por ter tido um subordinado morto em uma ação e no final, irá levar um tiro por uma ação extremamente burra; ele irá se expor a Vadão, que cercado por policiais, vai pedindo a vários policiais, em sequência que se mostrem para ele poder se entregar. Os policiais, numa ingenuidade gigantesca, se mostram... e obviamnete são alvejados pelo criminoso, três, cometendo o mesmo erro, repetidamente.
O roteiro é totalmente episódico, e o que segura o espectador, só pode ser as incursões da ROTA e a prisão esporádica e morte de vários criminosos. Muitas destas ações poderiam ter sido cortadas facilmente e dar ao material maior organicidade.
Há outros problemas terríveis na mise-en-scène, decupagem, direção de atores e o pior de todos, pior do que o roteiro. O som, é impossível ouvir muitas das falas dos personagens.
Mas, agora, vejamos por que estou falando tanto do filme?
Ele tem algumas qualidades e estas dizem respeito a sua vitalidade e coragem (não, eu não estou falando coragem em mostrar a realidade, pois nenhum filme consegue fazer isso, essa maquininha que mostra a realiade, simplesmente não existe). Mas sim a coragem de se arriscarem e de fazerem o filme, de se atirarem no empreendimento, rompendo com diversas regras da produção cinematográfica (embora pareça ser mais por preguiça do que por virtuosismo). É um filme com vida, que o público acaba se identificando, as pessoas param para dar uma olhada no que você está vendo e vão até o final. Algumas cenas tem uma mise-en-scène bem estranha e isto dá uma verdade artística ao filme.Como a cena em que o soldado é morto, e outro ao tentar segurá-lo cai, no chão ainda abraçado ao amigo alvejado.
Bem, já me prolonguei demais, mas o que queria ressaltar é que as vezes é necessário vermos estes filmes. Eles podem não apenas nos ensinar muito, mas muito mesmo sobre cinema, sobretudo se conseguimos ir analisando os seus problemas, mas podem também trazer elementos novos a uma dramaturgia viciada e estagnada.