quarta-feira, 10 de março de 2010

Oscar - 82º Prêmio da Academia de Artes Cinematográficas e Ciência


Bem, até que enfim consegui um tempinho para falar sobre a premiação ocorrida no último domingo. No geral, eu gostei bastante, fiquei realmente surpreso com a vitória de Hurt Locker e achei-a merecida, sobretudo com a decepção do Oscar de 2009 que consagrou Slumdog Millionaire.

Como já havia comentado, Hurt Locker é um grande filme e fez juz aos seus prêmios, sobretudo ao de roteiro original, ao de direção e de melhor filme. Sem se fundamentar em uma visão simplista da guerra, Hurt Locker venceu o Oscar, e seu mérito não diz respeito apenas pela quantidade de prêmios, mas sim por vencer nas principais categorias.

O fato de a Academia conceder seu primeiro prêmio de direção a uma mulher também é bastante significativo, sobretudo se o que fora premiado tenha sido, em primeiríssmo lugar, o excelente trabalho, e que jamais alguém seja preterido em função de qualquer tipo de opção, crença, ou outra diferença qualquer, a não ser a distinção e a qualidade do trabalho.

A vitória de Hurt Locker sinaliza a premiação da qualidade de um grande filme, independente de sua proposta ser comercial e/ou estética, ou de imensos valores de produção. A impressão que tive desta premiação é como se a Academia passasse ao largo das distinções entre cinema "de arte", ou "cinema comercial" e buscase um denominador comum entre estas distinções. Em minha opinião, realmente venceu o melhor.


Em relação aos prêmios, pensei que Avatar venceria, claro que pelas suas qualidades técnicas e comerciais. Mas a academia entendeu que Avatar já fora devidamente recompensado. Na minha opinião, Cameron seria o vencedor do Oscar de melhor direção e Hurt Locker venceria roteiro original e melhor filme.

Quanto a melhor ator, torci para Clooney, mas confesso, Jeff Bridges fez um excelente papel e não me decepcionei com o reconhecimento, não só pelo filme, mas por toda uma carreira. Não acertei, mas achei justo.

O que, não só não gostei, como o que me surpreendeu foi o prêmio de roteiro adaptado. Realmente ainda não entendi muito bem. Uma categoria tão boa, com verdadeiras pedreiras, como o meu favorito, Up In The Air, e An Education e District 9 premiar um filme razoável. Isto eu adoraria discutir e poder entender melhor. Eu entendo que a personagem Precious é incrível e blábláblá. Tem uma integridade moral impressionante, mas convenhamos, o que ela poderia fazer a não ser resignar-se? Abandonar aqueles sonhos infantis e enfrentar a necessidade e urgência de amar suas pobres crianças condenadas? Não quero desqualificar o filme, de modo algum, tanto que acredito no potencial e até na legitimidade do prêmio de Mo'nique embora, convenhamos, seja mal dirigida e caricatural. 

 

Ao meu ver, ao premiar Precious a Academia foi complacente com o filme por ele tratar de questões sociais delicadas, importantes não só da sociedade norte-americana. Mas isto não é novo e temos centenas de filmes tratando destas questões e de modo bem menos condescendente. Ao meu ver, ao inciarem estes trabalho, a idéia norteadora deve ter sido: " vamos procurar a pessoa mais ferrada da face da terra" e vamos fazer um filme sobre ela. O mínimo que podiam fazer era dar um pouco de dignidade a esta pobre coitada. Antes do que denúncia, é um show de horrores que serve apenas para que as pessoas exercitem e demonstrarem seu lado "bonzinho" ao se compadecerem de Precious.

 

O talento de Gabourey Sidibe se mostrou algo impressionante e espero que seja melhor aproveitado em seu próximo filme. Que ela fuja de papéis estereodipados e, sobretudo, do papel de vítima resignada das circunstãncias.

Outro que tinha por certo sua premiação foi Up. Sem dúvida, com um roteiro bastante original, era quase certa sua vitória em Longa de Animação, e que mostrou seu favoritismo em Trilha Sonora.



Diga-se de passagem, é um dos melhores trabalhos dos últimos anos. Impecável em sua sutileza e beleza, sobretudo pela originalidade do roteiro. Por exemplo, alguns paradigmas narrativos (Propp, Campbell e Vogler ) fazem menção ao chamado à aventura. É incrível como em centenas de filmes podemos encontrar este chamado, e geralmente a recusa ao mesmo.(alguns definem que "o chamado" está presente em todos) Vejamos o caso de Gladiador várias vezes comentado neste blog. Maximus recusa o pedido do Imperador de assumir o trono. Em Avatar, Jake é chamado à aventura por ter-se tornado paralítico e só não recusa em assumir o lugar do irmão, pois só atendendo ao chamado é que ele poderá voltar a andar. De certo modo, em Hurt Locker, James não só atende ao chamado da guerra, como não quer retornar. Há inúmeros casos, mas atendo-se ao caso de Up, Carl Fredricksen simplesmente esquece do chamado durante toda a a sua vida e só no final o atende. Achei isto muito bem feito e bem realizado. É claro que o roteiro tem outros méritos, mas deixemo-os para outra ocasião.

Como eu esperava, os irmãos Coen desta vez ficaram de fora, assim com Invictus e Up in The Air. Mas é claro que não podemos esquecer que a indicação por si só já é um grande feito.

Por fim, fica os parabéns ao cinema argentino, com seu segundo Oscar o cinema portenho mostra que pode ser uma referência cinematografica na América Latina.

para quem se interessar em ver todos os premiados, clique Aqui!

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com você em quase tudo... Mas poxa, eu achei Precious um filme bastante interessante e realmente merecedor dos prêmios que conquistou.

O que eu não gostei este ano foi o fato de Bastardos Inglórios sair ganhando apenas por Cristoph Waltz (que indiscutivelmente deu um show)... Na minha opinião Tarantino merece um maior reconhecimento da Academia.

Daniel Maciel disse...

Então, eu ainda quero entender o grande mérito do roteiro de Preciosa. Quando estiver com mais tempo,pretendo inclusive ler o roteiro e quem sabe rever o filme. Falar da forma como estou falando fica muito na 'opinião' e 'gosto'. Vou desenvolver um argumento, digamos, mais técnico a respeito.

Quanto ao Besterds, eu até gostei do filme, não o acho uma grande obra dele, como Pulp Fiction ou Cães de Aluguel. Acho que o roteiro tem um problema que é o seguinte. Eu não compro a idéia de que o Landa faz uma besteira daquela e que muito menos ele, com sua rendição totalmente desmotivada consigar destruir o reich. O problema não é se isso é crível ou não, o que importa é se dramaticamente é bem construido, e neste sentido acho que o filme ficou devendo.

Abraço e valeu pelo comentário