Olá! Informo que o cinedramaturgia será retomado em meu site de trabalho, onde ofereço serviços, cursos e onde também passo a publicar meu podcast sobre filmes, séries e livros.
O endereço é
https://www.arquitrama.com/blog
e irei repostar algumas postagens interessantes daqui como também novas postagens.
Espero vocês por lá e que acompanhem e se inscrevam no nosso podcast também
Num primeiro momento podemos entender a série como uma
patriotada norte-americana ou um “drama pequeno burguês”, mas se abrirmos mão da
preguiça e nos munirmos de um mínimo de boa vontade intelectual podemos ver que
não se trata disso.
Dois espiões russos, um rapaz e uma jovem são enviados para trabalharem
disfarçados nos EUA, eles devem viver como americanos, devem ter filhos. Construindo
personagens dentro de personagens eles se dissolvem em inúmeras personalidades,
quem de fato são? Como conseguirão sair desse labirinto? Sabotagem por
sabotagem, roubo por roubo, mentira por mentira, assassinato por assassinato
covardes e os dois vão se perdendo.
Quantas atrocidades são necessárias para construir um mundo
melhor e mais justo? É necessário muito autoconhecimento aqui para não se agir
de má fé. Afinal, assassinar uma idosa aposentada e trabalhadora para o
benefício da revolução do proletariado é um paradoxo impossível de ser
conciliado por uma pessoa efetivamente disposta a “fazer o bem”.Tentando ir mais a fundo, The Americans fala sobre
pessoas engajadas em destruir um mundo que elas julgam ser mal, mas que
inconscientemente preferem em detrimento daquilo que elas supostamente foram
treinadas e doutrinadas a acreditarem conscientemente.
Mas é aqui que entramos em algo que me chama muito a
atenção: a relação entre indivíduos e sociedade, ou ainda, indivíduo e estado.
Assistir a essa série coincidiu com eu estar fazendo uma
releitura do Raízes do Brasil, clássico da historiografia brasileira escrito
por Sérgio Buarque de Holanda. Fazendo um paralelo entre The Americans e Raízes
do Brasil percebi uma grande possibilidade de fazer um paralelo entre uma questão
central no livro e um aspecto importante da série.
Abaixo transcrevo início do capítulo clássico do livro, O
Homem Cordial. Lembro que Sérgio Buarque de Holanda parte da oposição entre estado
e família para desenvolver o conceito do homem cordial. Não quero fazer
paralelo entre o conceito de homem cordial com The Americans, mas sim do ponto
de partida de Sérgio Buarque.
“O estado não é uma ampliação do circulo familiar, e ainda
menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades
particularistas, de que a família é o melhor exemplo. Não existe, entre o
circulo familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade e ate
uma oposição. A indistinção fundamental entre as duas formas é prejuízo romântico
que teve os seus adeptos mais entusiastas durante o século XIX. De acordo com
esses doutrinadores, o Estado e as suas instituições descenderiam em linha
reta, e por simples evolução, da família. A verdade, bem outra, é que pertencem
a ordens diferentes em essência. Só pela transgressão da ordem doméstica e
familiar é que nasce o Estado e que o simples individuo se faz cidadão,
contribuinte, eleitor, elegível, recrutável e responsável antes as leis da
cidade. Há nesse fato um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual
sobre o material, do abstrato sobre o corpóreo e não uma depuração sucessiva,
uma espiritualização de formais mais naturais e rudimentares, uma procissão das
hipóteses, para falar como na filosofia alexandrina. A ordem familiar, em sua
forma pura, é abolida por uma transcendência.”
“ninguém exprimiu com mais intensidade a oposição e mesmo a
incompatibilidade fundamental entre os dois princípios do que Sófocles. Creonte
encarna a noção abstrata, impessoal da Cidade em luta contra essa realidade
concreta e tangível que é a família. Antígona, sepultando Polinice contra as
ordenações do Estado, atrai sobre si a cólera do irmão, que não age em nome de
sua vontade pessoal, mas da suposta vontade geral dos cidadãos, da pátria.
“E todo aquele que acima da Pátria
Coloca seu amigo, eu o terei por nulo.”
O Conflito ente Antígona e Creonte é de todas as épocas e
preserva-se sua veemeência ainda em nossos dias”.
Talvez fique um pouco obscuro meus comentários, mas se fosse
desdobrar de fato a relação disso em The Americans eu daria um grande spoiler. Mas
para não ficar muito obscuro, tentarei aqui desdobrar onde esse ponto é central
em The Americans. Misha e Nadezhda são espiões soviéticos obrigados a constituírem
família nos EUA. Tornam-se assim Philip e Elizabeth Jennings. Eles assumem suas
vidas falsas, as quais vivenciam mais tempo do que suas vidas verdadeiras. Estão
na casa dos 40, enquanto foram para os EUA com menos de 20. Eles têm dois
filhos, Paige e Henry.
Mas a família dos Jennings é uma criação forçada pela KGB, pelo
estado soviético. É uma farsa. Mas e Paige? E Henry? São uma família ou não são?
O conflito entre estado e família é inevitável e inconciliável. Quando o estado
soviético intervém na educação dos filhos dos Jennings e na vocação
profissional dos mesmos Philip e Elizabeth percebem que de fato, sua família é
uma mentira e o próprio conceito de família é uma antinomia dentro do estado
soviético. Uma impossibilidade, uma vez que todos estão a serviço de um bem
maior que e definido por uma entidade abstrata para além de qualquer
individualidade. E essa tomada de consciência é central para os dois de fato
entenderem quem são. Obviamente essa leitura não se aplica apenas ao estado
soviético, no entanto talvez ganhe potência pelo fato do estado soviético ter
sido uma maximização da ideia de estado totalitário com controle máximo sobre
corpos, corações e mentes, e talvez essa sua maior brutalidade. Ao Jennings, ou
Nadezhna e Misha, só lhes restam fragmentos de personalidades, disfarces dentro
de disfarces. Que talvez, com a dissolução do regime socialista soviético,
possam ser enfim construídas depois de tantas perdas.
Só para encerrar, Holly Taylor tem tudo para ser uma das maiores estrelas da sua geração.
Assisti ao O Primeiro Homem que resolvi comentar minhas impressões.
A meu ver, é um filme sobre o sofrimento, e consequentemente, a busca pelo significado e beleza da nossa existência. O ponto de partida é uma dor infinita, a morte da filha dos Armstrong nos primeiros anos de vida. A propósito, há uma belíssima transição da criança dormindo para o pequenino caixão. Na hora lembrei do livro A Peste de Albert Camus, onde Riex, o personagem principal, faz as reflexões sobre o sofrimento, e o tipo de sofrimento mais inaceitável de todos, o sofrimento de uma criança.
“E, na verdade, nada havia de mais importante sobre a terra que o sofrimento de uma criança e o horror que esse sofrimento traz consigo e suas razões que é preciso descobrir”. Mas... “Quem poderia afirmar que a eternidade de uma alegria podia compensar um instante da dor humana?”
No livro, o padre adverte, mesmo que sendo visto com suspeição por RIeux: “Meus irmãos, chegou a hora. É preciso crer em tudo ou tudo negar. E quem, dentre vós, ousaria negar tudo?” E nesses termos, o sofrimento absoluto se transforma em alimento que empurra a humanidade em sua missão desconhecida... “O sofrimento das crianças era nosso pão amargo, mas sem esse pão, nossa alma pereceria de fome espiritual.”
Mas para além da perda da filha, a morte cerca todos o tempo todo. Janet Armstrong diz à amiga que fazia tempo que não iam a um velório, só no último projeto enterraram quatro colegas... mal sabiam, embora fosse previsível, que em breve iriam em outro.
Mas há coragem nos Armstrong, mesmo com a perda da filha, eles têm um novo bebê e não se intimidam. Mas essa coragem parece ter seus limites, numa sequência belíssima, o medo de Armstrong se despedir dos filhos é superado pela coragem da esposa. “Vá se despedir de seus filhos”. A despedida é encerrada pelo filho mais velho - ainda criança - não por um abraço afetuoso, mas por um aperto de mão firme e sério... de uma criança que já entendeu as limitações da vida humana.
Muito interessante a escolha da direção em trabalhar com inúmeros primeiros planos e planos detalhes num filme cujo assunto esteja relacionado à exploração do espaço do infinito. Mas esse contraste se justifica. A propósito, talvez seja o melhor filme que eu vi com o Gosling, e acredito que a capacidade expressiva dos atores, sobretudo dele e Claire Foy, foi excepcionalmente bem explorada.
Sem querer forçar a barra, mas achei que o filme estabelece um diálogo interessante com o Soliáris do Tarkóvski. Se em Soliáris há uma crítica à corrida espacial - no sentido de que a busca por desbravar o universo é de certo modo inútil se não nos aprofundarmos no entendimento daquilo que somos - , em O Primeiro Homem a jornada espacial é uma possibilidade de auto-conhecimento. Nesse sentido os planos mais fechados são uma escolha muito interessante, pois revelam muito dessa jornada emocional diante da existência e do desconhecido.
A progressão dramática, a jornada emocional de Armstrong, tem seu clímax diante do infinito, na percepção do significado de finitude humana, da sua beleza e o seu milagre, o que contrasta com o cenário cinza e estéril da Lua. Compreensão de algo que não pode ser dito em palavras e só o cinema em sua grandeza poderia mostrar.
Foi a primeira vez que vi o filme, e o
começo é realmente muito bom, o plano sequência POV de Michael Myers é simples,
mas muito poderoso. Mesmo que Carpenter use a ironia dramática - sabemos que
Judith corre risco, mas ela não -, mas a sacada está que não sabemos qual é a
fonte desse perigo, pois não podemos ver quem
é que vê, inclusive, somos nós que vemos.
Sei que há todo esse papo de que nos identificamos
com o personagem se vemos as coisas pela perspectiva dele, mas tudo pode ser
relativo e nada é absoluto em termos de linguagem. De fato, quando você vê
através de um POV o qual você não sabe de quem é, tudo fica mais interessante e
gera uma incerteza sobre o personagem, e isso é fundamental para a construção
do personagem de Michael Myers, alguém que sofre de uma enorme confusão mental
e sua incapacidade de saber quem de fato ele é, e isso se transforma em ódio e
desejo de sangue (percebe a minha projeção?).
Por falar em projeção, quando o filme começa, não
sabemos nada sobre de quem é aquele ponto de vista, e isso gera uma lacuna que
é preenchida com projeções do espectador. E para mim a possibilidade do
espectador ter um alvo para projetar seus próprios horrores é fundamental para
a resposta emocional do gênero, (por isso gosto muito do Atividade Paranormal,
embora diversas pessoas subestimem esse filme).
Outra escolha feliz da direção e diretamente ligada
a essa estratégia é revelar – e mostrar - muito pouco sobre Michael Myers, em
consonância com o que é feito no plano sequência inicial.
Curto muito também a cena onde Dr Loomis, o psiquiatra de Myers, na rua, fica pensativo sobre o paradeiro de Myers. Dr Loomis está em primeiro plano enquanto o carro onde Myers persegue Laurie está parado ao fundo. Quando Dr Loomis olha para o outro lado, o carro passa por trás no sentido contrário do olhar do psiquiatra evitando que ele veja Myers. Myers persegue Myers, que persegue Laurie... uma baita forma visual de representar o jogo de gato e rato entre eles.
A propósito comecei a escrever para dizer que não
havia gostado tanto do filme, mas depois de escrever minha opinião mudou
radicalmente. Afinal, como diria o roteirista Bill D. Wittliff: “Como vou saber
o que eu penso antes de ler o que escrevo?”
The Screenwriting Research Network is a research group consisting of scholars, reflective practitioners and practice-based researchers interested in research on screenwriting. The aim is to rethink the screenplay in relation to its histories, theories, values and creative practices.
The network commenced in 2006 within the Louis Le Prince Research Centre, at the Institute of Communication Studies (ICS), University of Leeds. During the last six years the network has grown rapidly. Yearly conferences have attracted a growing number of people around the world to share experiences and discuss problematics of screenwriting research. The conferences have taken place in Leeds (2008), Helsinki (2009), Copenhagen (2010), Brussels (2011), and Sydney, Australia (2012). The sixth conference in 2013 widens the geographic spread to North America, Madison, Wisconsin (see sectionEvents).
6th Screenwriting Research Network International Conference
August 20 – 22, 2013
University of Wisconsin-Madison, USA
This is a call for papers for the annual international conference on screenwriting research, this year organized by the Department of Communication Arts at the University of Wisconsin-Madison, USA. The Screenwriting Research Network is a research group that commenced in 2006 within the Louis Le Prince Research Centre, at the Institute of Communication Studies (ICS), University of Leeds. The Screenwriting Research Network now consists of academics as well as practitioners interested in research centered on screenwriting studies. The network has achieved a critical mass in recent years with conferences taking place in Leeds (2008), Helsinki (2009), Copenhagen (2010), Brussels (2011), and Sydney, Australia (2012). The sixth conference widens the geographic spread of the network to North America, taking place in Madison, Wisconsin, USA (2013).
The Screenwriting Research Network is comprised of scholars, writers, and practice-based researchers devoted to rethinking the screenplay in relation to its histories, theories, values and creative practices. The aim of the conference is to continue, and expand, discussions around the screenplay and to strengthen a rapidly emerging, and global, research network. The Journal ofScreenwriting, first published in 2009, stands as testament to the vitality of the screenwriting network across traditional and practice-based research. This is in addition to growth in the publication of screenwriting monographs by scholars in the network, including books on screenwriting by Steven Price, Steven Maras, J.J. Murphy, and Jill Nelmes, among others. The new Palgrave Studies in Screenwriting series grew out of this organization. The SRN is also building an online forum for scholars and practitioners interested in this subject.
The key theme of this next conference is “Screenwriting in a Digital and Global World.” This speaks to the complex and changing nature of screenwriting as a result of both digital technology and globalization. The conference hopes to raise questions about past, current, and future creative practices in scripting in various forms of media, both old and new.
Keynote speakers will be confirmed early in 2013.
The conference is interested in all types of research related to screenwriting in its many forms. We would like to invite abstracts for research presentations on (but not limited to) the following topics:
Cross-cultural collaboration in screenwriting
Screenwriting traditions in different national contexts
Screenwriting and transnationalism
Screenwriting and the pressures of globalization
Industry changes in the digital age and what it means for writers of film and television
Transmedia storytelling — “world building” and constructing narratives that reach across multiple platforms
Writing for online video as a new genre and profession
The history of screenwriting around the globe, including Hollywood
Questions of authorship in highly collaborative digital media projects
Database narratives and interactive, non-linear storytelling
Writing for games (including video games and ARGs)
Theorizing and analyzing screenwriting software
Screenwriting archival research
Theorizing screenwriting and the screenplay
Reflections on narrative theory and dramaturgy
Practice-based research
Case studies on individual writers or texts
Genre-orientated considerations of screenwriting and the screenplay
Adaptation in moving image screen works
The role of writing in non-fiction film, television, and other forms of media
Screenwriting for animation
Writing for episodic television
Screenwriting in independent cinema
Alternative forms of scripting
Call for Papers
Time allotted to each paper is 20 minutes plus discussion. Abstracts (250-300 words) may be submitted until January 1, 2013. Earlier submissions are welcome. Please remember to state your name, affiliation and contact information. Include a brief statement (100 words) detailing your publications and/or screenwriting practice.
Please send your abstract as a WORD document, with the email subject heading “SRN Conference Abstract” to: info@commarts.wisc.edu.
More information on the program as well as cost, traveling and accommodation details will be available on this website as it becomes available.
The conference is supported by a grant from the Anonymous Fund of the University of Wisconsin-Madison, and is being organized with assistance from the Department of Communication Arts at UW-Madison, theWisconsin Center for Film and Theater Research (WCFTR), and the Screenwriting Research Network.
For further information, please contact J. J. Murphy, jjmurphy@wisc.edu or Kelley Conway, kelleyconway@wisc.edu at Department of Communication Arts, UW-Madison, USA.
Conference Co-Directors:
Professor Kelley Conway and Professor J. J. Murphy, Department of Communication Arts, University of Wisconsin-Madison, USA.
MR PINKMAN Quem está ai? (Surpreso) Mas quê diabos você está fazendo aqui?
Escrever que Breaking Bad (Br+Ba) é excepcional, é fácil.
Fácil tanto por não se aprofundar na afirmação quanto por ser esta opinião um
consenso.
Eu vi toda a série até o último episódio, Gliding Over
All, que foi ao ar no dia 2 de setembro e, enquanto aguardo ansioso pela
conclusão da série em 2013, estou revendo tudo com atenção. Realmente, eu
poderia discorrer infinitamente sobre inúmeros elementos do seriado, sua
dramaturgia, estrutura, seus personagens, diálogos, etc. Mas, como tenho feito
no blog, vou me ater a elementos particulares de alguns episódios e cenas.
Antes de começarmos, aviso para quem não assistiu que aqui
teremos um SPOILER, visto ser um plot que trabalha com uma SURPRESA. Então,
quem não viu ainda, comece logo a assistir ao seriado! O episódio em questão é o quarto da primeira temporada, Cancer
Man, quando Skyler descobre e conta para toda família sobre o câncer de Walter. Porém, apesar do plot de Walter ser central, o plot sobre Jesse me
chamou bastante a atenção, pois descobrimos um pouco mais sobre ele.
1 - Jesse tem delírios paranóicos e foge de sua residência.
Por volta de 1/3 do episódio, Jesse Pinkman depois de
exagerar no uso de metanfetamina, tem delírios paranóicos. Ele vê dois
motoqueiros ameaçadores chegarem à porta de sua casa e se dirigirem para ela
com granadas e facões. Jesse, apavorado, foge de casa pelos fundos e pula
o muro da residência vizinha.
Depois que Jesse foge, o “narrador” revela ao “espectador”
que os dois “motoqueiros ameaçadores” nada mais eram do que dois mórmons em seu
trabalho de pregação da bíblia.
Depois, acompanhamos Walter White, num momento privado,
quando ele cura os ferimentos causado por KrazyEight, depois o desenvolvimento
dos problemas familiares de Walter White com sua esposa e com seu filho entre
outras ações que não nos interessam agora (mas seriam importantes se
estivéssemos estudando a estrutura narrativa do episódio e de como o plot de
Jesse se insere no todo, o que não é o caso, pois só estou escrevendo sobre
como a surpresa será construída especificamente no plot de Jesse.)
2 – Uma família típica, a qual não conhecemos, janta feliz.
Logo depois de acompanharmos W.W., nos vemos diante de uma
família típica, bem estruturada com um filho muito jovem e prodigioso. Eles
jantam e conversam sobre as assombrosas habilidades do moleque, parecem muito
felizes e estáveis. Logo, ouvem um barulho no quintal. Este barulho no quintal automaticamente nos faz lembrar que
Jesse, numa crise paranóica, pulou o muro de sua casa para a casa vizinha. O
clima de felicidade na casa da família que agora acompanhamos o jantar, e o
contraste com o estado psicológico de Jesse nos faz temer pelo que pode
acontecer, afinal, será que Jesse enlouquecido pulou neste quintal e em sua
alucinação irá atacar esta família feliz?
3 – O pai da família decide verificar o barulho.
O homem decide ir ver o que causou o barulho no quintal.
Eles estão com um pouco de medo. Uma série de questões e expectativas se forma
na cabeça do espectador. Será que é Jesse que está no quintal? Será que irá
atacar a família feliz? Será que o homem irá pegar uma arma e sair no quintal e
ao ver Jesse irá atirar nele? Será que o homem vai chamar a polícia? Será que
Jesse vai ser preso e correr o risco de entregar Walter White.
4 – Descobrimos se tratar da família de Jesse.
O homem vai ao quintal e se depara com alguém em uma
situação patética, alguém que tropeçou em uma mesa e enroscou o pé em uma
cadeira e não consegue sequer equilibrar-se. O homem pergunta quem é e percebe
(antes do espectador) tratar-se de Jesse. Jesse se levante e chama o homem de
pai, depois chega a mulher e o menino, e Jesse os cumprimenta, sem jeito e de
longe, sua mãe e seu irmão. Então nos surpreendemos! Toda a construção dramatúrgica nos
leva a crer numa situação de perigo (a oposição entre o quadro psicológico de
Jesse e o clima amoroso do jantar, a família perfeita e o junkie problemático
Jesse, não conseguimos associá-lo ao universo deste lar todo amoroso e
tranquilo). Todo o contexto é construído neste sentido, e todas aquelas dúvidas
que tínhamos posteriormente do que poderia ter acontecido; Jesse atacar a
família, o homem atirar em Jesse ou chamar a polícia, não se realizaram. Algo
inesperado aconteceu. Jesse é a ovelha negra desta família.
Na primeira vez que vi fiquei bastante impressionado com o
contraste da situação e da caracterização dos personagens, elementos que tanto
neste episódio, como nos posteriores irão revelar mais sobre o personagem de
Jesse e da relação com sua família, sobretudo com algumas surpresas ainda mais
interessantes.